A propósito da celebração do segundo aniversário do P3, fui desafiado a escrever um texto sobre como será Portugal daqui a dois anos. Não sei se quem me desafiou se deu conta mas fazer previsões é, provavelmente, a tarefa mais difícil do mundo!

A propósito da celebração do segundo aniversário do P3, fui desafiado a escrever um texto sobre como será Portugal daqui a dois anos. Não sei se quem me desafiou se deu conta mas fazer previsões é, provavelmente, a tarefa mais difícil do mundo!

Bem sei que há muito quem viva de fazer previsões porque há muito quem pague para as ter. É um mercado que junta, no mesmo saco, esotéricos e cientistas, pessoas honestas e vigaristas encartados, intelectuais e empresários. Uns querem enriquecer (e por isso compram “business plans”, em inglês e tudo, onde se explica o quanto um projecto vai render ao fim de 5 anos…), outros querem ser felizes ou prevenir problemas (e por isso recorrem a lançadores de cartas ou leitores de astros que lhes dizem o que aí vem) e ainda outros procuram deslindar o funcionamento da realidade (cientistas que usam as experiências, a tentativa e erro e os modelos matemáticos para tentar descobrir como tudo isto funciona afinal). E sim, uns conseguem acertar mais que outros. Mas é sempre uma questão do que se quer prever e a que distância. A verdade é esta: prever o futuro totalmente é uma capacidade que não possuímos (e que jamais possuiremos)!

Pensemos no desafio: daqui a dois anos Portugal pode já se ter livrado da troika ou estar sob um segundo resgate. Daqui a dois anos o Euro pode já ter acabado, o país ter falido e o P3 desaparecido… Ou então não, pode o P3 estar mais maduro, ter mais leitores e colaboradores e estar a celebrar o 4º aniversário em grande euforia. O P3 que me desculpe, mas é quase só isto o que se pode dizer…

A realidade é mesmo assim: complexa, caótica e imprevisível. Nós é que nem sempre nos apercebemos porque operamos debaixo de uma ilusão de controlo que nos permite viver mais sossegados. Sim, temos o stresse crónico, temos noção de alguma incerteza mas não processamos, diariamente, o quanto não está sob o nosso domínio. É, no fundo, uma estratégia cerebral eficiente: saber tudo nem sempre é o melhor. Se açambarcássemos tudo à nossa volta, toda a informação disponível, paralisaríamos com a incapacidade de tomar decisões perante tamanha complexidade.

Mas voltemos à dificuldade em prever. Lembram-se o que pensavam, há cinco anos atrás, sobre o que ia ser o vosso futuro daí a cinco anos? Se forem honestos, acredito que reconheçam o quanto erraram nas vossas previsões. Se fizerem hoje uma nova previsão, o mais provável é voltarem a errar. Daqui a cinco anos em que cidade vão viver? Com quem vão estar juntos? Vão estar no mesmo emprego? Quem vão perder pelo caminho? Se alargarmos o prazo, então, as previsões tornam-se completamente arbitrárias. O que acontecerá aos nossos filhos quando tiverem 30 anos? E aos nossos netos? Chegaremos sequer a vê-los?

A verdade é que de cada vez que abrirmos o nosso email, atendemos o telemóvel, saímos de casa para ir trabalhar ou para estar com amigos, estamos, sempre, a ser invadidos pela incerteza e pelo desconhecido. E mesmo que nos confinássemos a um isolamento total, continuaríamos à mercê das forças da natureza e das incertezas da nossa saúde. O curso da nossa vida não depende só de nós (na verdade depende muito pouco de nós) e temos que ter a humildade para o reconhecer. Mas também não temos que ficar aflitos. A única coisa que podemos fazer é aceitar que a vida é também o imprevisto, pormo-nos à mercê das oportunidades e confiar na nossa capacidade de adaptação. O resto, é tentar ser feliz enquanto há vida.