De que te ris, afinal?
As Autárquicas 2013 arriscam-se a ficar na história da nossa democracia. Assim merecem. Como o fundo do poço da pouca preparação e da fraca qualidade de quem nos pretende governar
A festa tem sido bonita. Há palhaços, ilusionistas, cuspidores de fogo. Há quem faça mortais incríveis. Quem consiga mentir sem que o detector detecte. Quem até finja ser sério. Há cá gente com um talento... Faltam menos de 15 dias e tem sido uma barrigada de riso. Rimo-nos dos que parecem saídos de um filme. Dos que não parecem deste filme. Dos que fazem destes filmes há anos. Sempre com lotações esgotadas. E os mais cómicos vão às rádios (que as televisões amuaram), desdobram-se em entrevistas, fazem-nos rir ainda com mais vontade.
A verdade faz-nos mais fortes
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A festa tem sido bonita. Há palhaços, ilusionistas, cuspidores de fogo. Há quem faça mortais incríveis. Quem consiga mentir sem que o detector detecte. Quem até finja ser sério. Há cá gente com um talento... Faltam menos de 15 dias e tem sido uma barrigada de riso. Rimo-nos dos que parecem saídos de um filme. Dos que não parecem deste filme. Dos que fazem destes filmes há anos. Sempre com lotações esgotadas. E os mais cómicos vão às rádios (que as televisões amuaram), desdobram-se em entrevistas, fazem-nos rir ainda com mais vontade.
Mas de quem nos rimos, afinal? Dos políticos? Do país? Ou de nós próprios? Rimo-nos do autarca trapezista, que muda de partido ou se assume independente para não deixar o trapézio? Rimo-nos do candidato parolo, que não sabe de design e se exibe ao eleitorado como que num TPC do segundo ciclo? Rimo-nos do “paraquedista” em estreia, que se apresenta em conferência de imprensa como num discurso de aniversário, em tímido improviso? Ou rimo-nos de nós mesmos e do que já percebemos que serão os próximos quatro anos (mais quatro, mais quatro, ...) de representação política?
As Autárquicas 2013 arriscam-se a ficar na história da nossa democracia. Assim merecem. Como o fundo do poço da pouca preparação e da fraca qualidade de quem nos pretende governar. Como o ano em que a máscara caiu. O ano em que ficamos a saber quem afinal somos. O ano em que o país – em processo de intervenção externa – mostrou o seu eu, em directo e em exclusivo, no Facebook de quem quis ver. Sem efeitos especiais. Sem manobras. Sem qualquer tipo de vergonha.
Este é o país que construímos. E cada novo outdoor que é despejado nas redes sociais é uma nova facada na confiança e autoestima nacionais. Já percebemos a mensagem. Não nos batam mais. Não nos deixem a pensar em quantos daqueles “tesourinhos” sairão vencedores do processo eleitoral. Em quantos serão presidentes de câmara ou de junta, contagiando os territórios com tão reduzidos níveis de exigência e de profissionalismo.
Há, claro, a pergunta que se impõe: Serão estes candidatos os melhores que temos, os mais representativos ou apenas os possíveis, face ao desinteresse generalizado no processo governativo? A resposta é um pouco de tudo. Fundamentalmente, a má política atrai os maus candidatos. E o défice de cidadania que nos caracteriza enfatizou a diferença entre quem vota e quem governa. E se os primeiros não se reveem nos segundos, deve-se essencialmente a este sentimento tão sul europeu do “nós” e do “eles”. A má notícia é que mais uma vez é tarde e em menos de 15 dias serão “eles” quem estará a rir nos boletins de voto. Nessa altura, já nem vontade de sorrir teremos.