Tribunal ouviu uma das 48 pessoas acusadas de recrutar pessoas para trabalho escravo
O julgamento prossegue dias 17 e 19, de manhã.
O julgamento começou depois das 11h com a identificação dos 32 arguidos presentes e prosseguiu à tarde com o primeiro depoimento de um arguido, que negou todas as acusação contra si, que incluem, nomeadamente, ameaças, agressões e apropriação de documentos alheios.
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O julgamento começou depois das 11h com a identificação dos 32 arguidos presentes e prosseguiu à tarde com o primeiro depoimento de um arguido, que negou todas as acusação contra si, que incluem, nomeadamente, ameaças, agressões e apropriação de documentos alheios.
A acusação diz que os arguidos recrutaram, na maior parte dos casos em Trás-os-Montes, mão-de-obra para a vindima, apanha da fruta, poda e outros trabalhos agrícolas em Espanha, em Saragoça e na região autónoma de La Rioja.
Os angariadores, quase todos dos concelhos de Moncorvo e Alfândega da Fé, prometiam-lhes salários atraentes, alojamento e alimentação, mas o que tinham à sua espera, de acordo com a acusação, foi outra coisa: trabalho escravo e violência sexual e física.
Muitos desses trabalhadores encontravam-se "desempregados", quase sempre eram "homens e solteiros" e tinham uma baixa escolaridade e alguns padeciam até de alguma deficiência física ou psíquica ou eram viciados em álcool e/ou drogas, especifica o Ministério Público (MP), numa acusação de 400 páginas.
Em Espanha, as vítimas trabalhavam "no nascer ao por do sol", sete dias por semana, e ficavam até sem o dinheiro que lhes era pago pelos donos dessas quintas e que, porém, acabava nas mãos desses angariadores, que tinham acesso às suas contas bancárias.
As vítimas eram coagidas a entregar o dinheiro, "sob pena de virem a ser brutalmente sovadas", diz um auto de declarações, citando o ofendido Fernando.
"Através da intimidação e da violência física, [os principais arguidos] aterrorizavam os trabalhadores, visando obter, à sua custa e contra a sua vontade, avultados lucros", sintetiza o MP.
Distribuídos por diversos subgrupos, os arguidos tinham um padrão de actuação similar e obedeciam a ordens de "clãs" familiares de etnia cigana, como o clã Carromão e o de Mirandela.
Muitos dos que hoje compareceram no tribunal recusaram falar e outros disseram que o farão "mais tarde".O alegado líder do clã Carromão, que preferiu manter-se em silêncio, está acusado, nomeadamente, de violar pelo menos uma trabalhadora.
Um dos membros deste clã, Buno Assis, encontra-se detido na Guarda devido a outro processo.José Manuel foi o único arguido que hoje prestou declarações, tendo rejeitado todas as acusações que lhe são feitas e que incluem ameaças, agressões e apropriação de documentos.
"Isso é tudo falso", contestou José Manuel quando a juíza presidente do colectivo eleito para julgar este mega processo, Ana Paula Oliveira, o confrontou com a acusação.
O arguido disse que foi procurado por várias pessoas para lhes arranjar emprego, uma vez que ele trabalhava e vivia há vários anos em Espanha e conhecia "patrões".
Algumas pessoas ficaram depois alojadas nessa sua residência, num andar com nove camas disponíveis em três quartos, mas José Manuel negou, contudo, que tenha ficado com os documentos ou os salários desses seus hóspedes.
Uma das vítimas, um homem, pediu à sua mulher para abrir uma conta bancária em seu nome no dela, segundo José Manuel, ele próprio "trabalhador do campo".
A mulher mexia conta do homem "só com ordem dele", referiu, tendo ainda afirmando desconhecer quanto era depositado.O julgamento prossegue dias 17 e 19, de manhã.