Papa Francisco: "A misericórdia de Deus não tem limites" e chega aos ateus
Numa carta enviada ao jornal La Repubblica, Francisco afirma que é a consciência de cada um que molda os seus comportamentos. Quem praticar "o bem", mesmo não tendo fé, beneficia da "misericórida sem limites" de Deus.
A carta, publicada na primeira página do jornal italiano, surgiu em resposta ao co-fundador e antigo director do La Repubblica Eugenio Scalfai, ateu assumido e autor de duas cartas abertas dirigidas ao Papa.
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A carta, publicada na primeira página do jornal italiano, surgiu em resposta ao co-fundador e antigo director do La Repubblica Eugenio Scalfai, ateu assumido e autor de duas cartas abertas dirigidas ao Papa.
Na última carta, Eugenio Scalfari perguntara a Francisco se "Deus perdoa quem não acredita e quem não procura a fé".
A resposta do Papa surgiu no seu habitual tom conciliatório e de relativo corte com o passado recente no Vaticano. "Dado que – e esta é a questão fundamental – a misericórdia de Deus não tem limites se Ele for abordado com um coração sincero e arrependido, a questão para quem não acredita em Deus é a obediência à sua própria consciência", escreve o Papa.
"Há pecado, também para os que não têm fé, quando se vai contra a própria consciência. Ouvi-la e respeitá-la significa tomar uma decisão sobre o que cada um entende como o bem e como o mal. E esta decisão é fundamental para determinar o bem e o mal nas nossas acções."
Numa outra passagem da carta, o Papa refere-se à noção de relativismo, muitas vezes contestada pelo seu antecessor. Para Bento XVI, a incapacidade das sociedades modernas de reconhecerem qualquer "verdade absoluta" – como Deus, na sua opinião – é um dos males dos tempos actuais. Mas para Francisco não há verdades absolutas sem a existência de uma relação: "A verdade, segundo a fé cristã, é o amor de Deus por nós em Jesus Cristo. Por isso, a verdade é uma relação."
O Papa termina a carta com uma declaração sobre o objectivo principal da Igreja Católica, com referências aos "erros e pecados" cometidos: "Apesar da lentidão, da infidelidade, dos erros e dos pecados que [a Igreja] cometeu e poderá ainda vir a cometer contra os seus membros, a Igreja, acredite em mim, não tem qualquer outro sentido e objectivo que não seja viver e testemunhar Jesus."