Obama adia acção militar na Síria para explorar via diplomática

Presidente americano pediu ao Congresso para adiar votação sobre intervenção militar na Síria.

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Obama falou à nação para explicar por que defende uma intervenção contra o regime de Bashar al-Assad AFP

Até aos últimos três minutos, Obama falou como se nada tivesse mudado desde sexta-feira, quando uma intervenção militar na Síria parecia iminente e a Casa Branca anunciou que o presidente iria fazer um discurso destinado a convencer um público relutante — um daqueles raros momentos em que um presidente tem de comunicar ao país que uma guerra é necessária.

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Até aos últimos três minutos, Obama falou como se nada tivesse mudado desde sexta-feira, quando uma intervenção militar na Síria parecia iminente e a Casa Branca anunciou que o presidente iria fazer um discurso destinado a convencer um público relutante — um daqueles raros momentos em que um presidente tem de comunicar ao país que uma guerra é necessária.

Falou como se quisesse convencer a opinião pública americana da necessidade de uma intervenção militar na Síria, repetindo os argumentos que membros da sua administração e ele próprio usaram nas últimas semanas.

Mas esse parecia ontem um objectivo remoto no momento em que Obama discursou, depois de o governo sírio anunciar no mesmo dia que estava disposto a aceitar uma proposta russa de desarmamento do arsenal químico que sempre negou possuir e aderir à convenção internacional que proíbe a produção e uso de armas químicas.

A comunicação do presidente americano ao país pareceu um exercício contraditório, com Obama a procurar preservar a pressão militar contra o regime de Assad ao mesmo tempo que tornou claro que iria efectivamente aliviar essa pressão. Obama anunciou que pediu ao Congresso para adiar uma votação sobre o seu pedido de autorização para uma intervenção militar na Síria de forma a explorar a nova via diplomática apresentada por Moscovo e aceite por Damasco.

“Ainda é muito cedo para dizer se esta oferta irá resultar”, disse, mas acrescentou que ela tem “o potencial para remover a ameaça das armas químicas sem o uso de força”.

O presidente americano indicou que o secretário de Estado John Kerry iria encontrar-se com o seu homólogo russo na quinta-feira para prosseguir as negociações e que ele próprio continuaria a debater o assunto com o presidente Vladimir Putin. Explicou também que os Estados Unidos estavam a trabalhar com a França e Reino Unido para, “em consulta com a Rússia e China”, apresentar uma proposta de resolução ao Conselho de Segurança da ONU que convença Assad a abdicar das suas reservas de armamento químico e a colocá-las sob supervisão internacional, com vista à sua destruição.

Um presidente que há dias se preparava para pedir um ataque militar no Médio Oriente ao país acabou por fazer uma espécie de actualização da situação ao país. Não ficou claro o que é que Obama estava a pedir exactamente aos americanos — paciência diplomática? — ou se o seu discurso ainda tinha como público-alvo o americano comum, em vez de Moscovo e Damasco.

O seu pedido para adiar a votação no Congresso parece ter sido uma saída para a provável humilhação de enfrentar um chumbo. Até ontem, Obama não tinha votos suficientes em nenhuma das câmaras e a súbita aparição de uma frente diplomática só parece ter solidificado a oposição dos congressistas.

Falando na véspera de mais um aniversário dos ataques de 11 de Setembro de 2001, Obama disse que “ninguém disputa” que armas químicas foram usadas na Síria a 21 de Agosto e garantiu que “o regime de Assad é responsável”. Notou que os Estados Unidos continuariam a buscar apoio internacional para uma retaliação contra o uso de gás sarin nos ataques de Damasco — Portugal tornou-se ontem um dos oito novos subscritores de uma declaração conjunta saída da cimeira do G-20, na semana passada, condenando o regime de Assad pelos ataques e apelando a “uma forte resposta internacional”.