Arquitecto não pensou que luz reflectida em prédio de Londres derretesse coisas
Não é a primeira vez que o arquitecto uruguaio Rafael Viñoly concebe um edifício que dá problemas à vizinhança. O “Walkie Talkie” de Londres emana calor capaz de estrelar ovos, razão pela qual lhe passaram a chmar “Walkie Scorchie”.
No número 20 da Fenchurch Street alguns trabalhadores e curiosos chegaram mesmo a juntar-se para medir a temperatura em zonas aquecidas pela luz reflectida pelos vidros do edifício de 160 metros de altura e que custou mais de 235 milhões de euros. Na quarta-feira, um dos dias mais quentes de Setembro dos últimos sete anos no Reino Unido, foi possível medir numa determinada superfície valores de 110 graus Celsius e são vários os relatos neste vídeo.
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No número 20 da Fenchurch Street alguns trabalhadores e curiosos chegaram mesmo a juntar-se para medir a temperatura em zonas aquecidas pela luz reflectida pelos vidros do edifício de 160 metros de altura e que custou mais de 235 milhões de euros. Na quarta-feira, um dos dias mais quentes de Setembro dos últimos sete anos no Reino Unido, foi possível medir numa determinada superfície valores de 110 graus Celsius e são vários os relatos neste vídeo.
O arquitecto do “Walkie Talkie”, Rafael Viñoly, citado pelo diário espanhol El País, reconhece que sabia que os materiais e formatos que ia utilizar tinham estas características mas diz que nunca pensou que os efeitos fossem tão drásticos. Além disso, o responsável reconheceu que durante a obra foram feitas alterações ao projecto inicial, nomeadamente numas protecções solares que estavam previstas para a fachada orientada para sul, e que com esses erros as consequências estarão a ser ainda piores.
“Cometemos um monte de erros e vamos encarregar-nos de os solucionar”, garantiu, criticando a forma de trabalhar no país, onde as consultoras e todos os intervenientes acabam por afastar o arquitecto das decisões. O prédio ainda está a ser terminado, devendo estar concluído em 2014.
Já ao Guardian, Rafael Viñoly disse que “sabia que isto podia acontecer” mas contrapôs que não contou “com as ferramentas ou com o software” necessários para analisar com precisão o problema e a localização do edifício. O arquitecto disse que ao fazerem uma segunda análise do desenho consideraram que a temperatura reflectiva rondaria os 36 graus e que esta chegou a superar os 72, pelo que reconhece razões para lhe estarem a chamar “raio da morte”.
Contudo, diz que Londres mudou muito desde que a visita há anos e que tem agora uma maior exposição solar que atribui às alterações climáticas. Aliás, neste campo, como alguns ambientalistas, sugere que se aproveite de alguma forma a energia emanada.
O problema é que esta não é uma estreia do arquitecto em edifícios que acabam a ter uma relação com o calor: um hotel que projectou em Las Vegas, nos Estados Unidos, com um formato semelhante acabou a queimar as espreguiçadeiras da piscina e a chamuscar o cabelo dos hóspedes. A solução passou por cobrir o edifício com uma capa que evitasse que os raios solares fossem reflectidos.
Visualmente o edifício, em plena zona financeira da capital, também se destaca, já que além da sua forma côncava alarga à medida que aumenta a altura, daí o nome pelo qual ficou conhecido. Só que os efeitos de sobreaquecimento levaram os ingleses a dar-lhe uma nova alcunha “Walkie Scorchie”, uma palavra relacionada com fogo e abrasador.
De almofadas chamuscadas, cadeiras e tapetes queimados, carroçaria de um carro derretida, um cheiro a queimado no ar e uma torrada e um ovo estrelado com o calor emanado pelo edifício várias têm sido as histórias relatadas.
Até haver solução definitiva para o problema, para absorver os raios solares foi montada uma estrutura de andaimes e proibiu-se o estacionamento em três zonas. De acordo com as empresas responsáveis pelo prédio, o aquecimento deve terminar em Outubro quando as temperaturas baixarem e acontece, sobretudo, duas horas por dia, quando o sol está mais alto.