E se fossem enviadas 10 mil cartas para Belém?

O Facebook deve ser a primeira “arma de arremesso” de quem quer manifestar a sua indignação? Tenho sérias dúvidas…

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A notícia só está meio confirmada, ou seja, é uma certeza que Fernando Marinho publicou fotografias do incêndio na Serra do Caramulo e um agradecimento particular à bombeira Ana Rita Pereira, que morreu no combate a esse mesmo incêndio. A outra metade, a que está por confirmar, é se este homem de 20 anos é de facto o co-autor desse mesmo incêndio – para já, sabe-se que confessou o crime ao Tribunal de Viseu.

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A notícia só está meio confirmada, ou seja, é uma certeza que Fernando Marinho publicou fotografias do incêndio na Serra do Caramulo e um agradecimento particular à bombeira Ana Rita Pereira, que morreu no combate a esse mesmo incêndio. A outra metade, a que está por confirmar, é se este homem de 20 anos é de facto o co-autor desse mesmo incêndio – para já, sabe-se que confessou o crime ao Tribunal de Viseu.

Feito este enquadramento, deixo esta nota prévia: sou utilizador diário do Facebook, não apenas para fins pessoais, como também em termos profissionais. Em ambos os casos, e com as devidas distâncias entre prazer e ofício, o objectivo é sempre o de tirar o máximo partido daquilo que se publica, captando a atenção de todos aqueles que me interessam que vejam o que coloco online.

O caso de Fernando Marinho, ao publicar fotos do incêndio do Caramulo, teve o mesmo resultado… mas ao contrário. Chamou a atenção das autoridades policiais e (ainda bem) isso acabou por lhe ser fatal.

Tomando este exemplo como ponto de partida – o da exposição pessoal no Facebook –, causa-me bastante estranheza a publicação da tomada de posições políticas, por políticos, via redes sociais. Não quero com isto significar que estes se devam cingir ao “palco” institucional do parlamento para se dirigirem aos cidadãos. Longe disso. O que é espantoso é que boa parte desses mesmos responsáveis parecem ignorar que há quase um milhão de portugueses sem qualquer nível de escolaridade, segundo dados da Associação Portuguesa de Formação de Adultos (2012). Isto é: 10 por cento dos portugueses não deverá fazer a mais pequena ideia do que é e muito menos tem acesso às redes sociais.

Por isso, publicar nessas mesmas redes sociais mais não é do que falar para dentro, para os seus pares, sem cuidarem de saber qual a abrangência da mensagem que estão a transmitir. Mais a mais, e de acordo com vários estudos publicados recentemente, está provado que os utilizadores do Facebook se mascaram com facilidade, para o melhor e para o pior, quando escrevem…

Voltemos aos incêndios e às trágicas mortes dos bombeiros, “assassinados” pelo fogo. Consultando a página da Presidência da República no Facebook, podem ser vistos perto de 10 mil comentários com a frase “os meus sentidos pêsames aos familiares dos heróicos bombeiros falecidos”, num "post" sobre o falecimento do economista António Borges. O que os indignados pediam era que Cavaco Silva tivesse dado publicamente uma palavra de incentivo aos bombeiros, num momento de terrível aflição na luta contra os incêndios. Houve resultados? Houve, pois o Presidente da República acabou por lançar um alerta para as condições em que os bombeiros trabalham, sobretudo na época em que há mais incêndios. O Facebook deve ser a primeira “arma de arremesso” de quem quer manifestar a sua indignação? Tenho sérias dúvidas…

Façamos o seguinte exercício: pensemos no que aconteceria se, em vez de 10 mil comentários na página do Facebook, fossem enviadas, concertadamente, 10 mil cartas de uma só vez para Belém?...