França diz que não agirá sozinha na Síria
Damasco respira de alívio, oposição diz que hesitação só dará mais força a Assad.
Paris torna-se assim o último aliado dos EUA a mostrar hesitações, depois do Parlamento britânico ter vetado qualquer ataque, e da posição tomada pelos próprios Estados Unidos. Todos tinham tido forte retórica defendendo uma retaliação a um ataque com armas químicas atribuído a Bashar al-Assad a 21 de Agosto.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Paris torna-se assim o último aliado dos EUA a mostrar hesitações, depois do Parlamento britânico ter vetado qualquer ataque, e da posição tomada pelos próprios Estados Unidos. Todos tinham tido forte retórica defendendo uma retaliação a um ataque com armas químicas atribuído a Bashar al-Assad a 21 de Agosto.
O primeiro-ministro francês, Jean-Marc Ayrault, vai discutir com alguns deputados a possível resposta, diz a agência Reuters. Mas uma coisa é clara, disse o ministro do Interior Manuel Valls: "A França não pode agir sozinha. Precisamos de uma coligação."
Obama surpreendeu todos quando finalmente anunciou neste sábado a sua decisão, a favor de um ataque militar à Síria. Essa não foi a surpresa, mas sim o facto de acrescentar que, apesar de ter prerrogativa de ordenar um ataque, iria procurar a aprovação do Congresso.
Do lado republicano, ouviram-se críticas imediatas: John McCain defende uma acção militar mais alargada do que o ataque “limitado” que a Administração defende, e outros republicanos como Pete King (Nova Iorque) criticaram mesmo o Presidente por abdicar de um direito que é seu e levar a questão ao Congresso: “O Presidente não precisa de 535 membros do Congresso para dar força à sua própria ‘linha vermelha’”, declarou (Obama tinha declaro que o uso de armas químicas por Assad era a ‘linha vermelha’ que ditaria uma intervenção, embora não tenha especificado que tipo de intervenção).
Mas no Congresso vinha a crescer um movimento de reacção e cerca de 200 membros tinham assinado uma carta pedindo ao Presidente que ouvisse o legislativo.
O anúncio de Obama, acrescentou Valls, cria uma “situação nova” o que faz com que a França tenha de esperar “pelo fim desta nova fase”. A França foi o poder colonial na Síria até aos anos 1940.
Enquanto isso, na capital, Damasco, o alívio era perceptível nas ruas, conta o correspondente da BBC Jeremy Bowen. Comentadores sírios apresentavam a declaração de Obama como “a retirada dos Estados Unidos”, segundo a Reuters, mas a TV continuava a passar imagens de guerra e mensagens nacionalistas. E o país estava “de volta ao padrão da guerra civil”, comenta Bowen.
A oposição, que na semana passada tinha dito que os aliados ocidentais iriam atacar rapidamente, expressaram desapontamento e afirmaram que o atrasar da acção só dará tempo a Assad para mais ataques. “Uma intervenção militar é no interesse do povo sírio – precisamos disso para resolver a crise”, disse Abdulbasit Sa'ad al-Dein, do Exército livre, em Alepo. “Precisamos de ataques directos a alvos significativos como instalações militares para salvar vidas”, afirmou.
Os inspectores da ONU que saíram no sábado da Síria com amostras recolhidas de locais onde terão havido ataques químicos dizem entretanto que os resultados dos testes poderão demorar até três semanas. O Congresso dos EUA só recomeçará as actividades a 9 de Setembro.