Rui Machete desmente-se a si próprio
Ministro dos Negócios Estrangeiros diz que afinal comprou as acções da SLN a 2,2 euros e não a um euro, como tinha revelado ao PÚBLICO.
No final de Julho, o PÚBLICO enviou um email para o ministro dos Negócios Estrangeiros inquirindo-o sobre notícias publicadas na imprensa de que, na década passada, teria vendido as suas acções pessoais da SLN à Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD), instituição à época presidida por si.
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No final de Julho, o PÚBLICO enviou um email para o ministro dos Negócios Estrangeiros inquirindo-o sobre notícias publicadas na imprensa de que, na década passada, teria vendido as suas acções pessoais da SLN à Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD), instituição à época presidida por si.
Dias depois, Rui Machete contactou telefonicamente o PÚBLICO, para esclarecer que não tinha vendido acções à FLAD, mas que efectivamente tivera acções da SLN na sua carteira de títulos pessoal.
Nessa conversa, inquirido sobre a que preço tinha comprado essas acções, o ministro respondeu que tinha sido a um euro e que anos mais tarde as vendeu a 2,5 euros, o que teria representado um ganho de 150%.
"Confirmo que na minha carteira de investimentos constaram, efectivamente, as acções da SLN no montante referido e que as adquiri ao valor nominal e as vendi nas datas referidas (até 2006) ao BPN por 2,5 euros cada", explicou então Rui Machete, que nos dias seguintes confirmou este valor a outros órgãos de comunicação social.
Dias mais tarde, a 10 de Agosto, o Expresso noticiou que a FLAD adquiriu, na mesma data, acções da SLN a 2,2 euros - ou seja, Machete, na época presidente da FLAD, teria comprado acções da SLN a um preço bem inferior ao da instituição a que presidia, situação que levantava dúvidas sobre a sua gestão.
São estes factos que Machete vem agora negar, desmentindo-se a si próprio.
“No que respeita aos preços de aquisição das acções, a notícia em causa [publicada pelo Expresso a 10 de Agosto] baseou-se no relatório e contas da FLAD e numa informação anterior do jornal PÚBLICO, ao qual admiti, equivocadamente, que teria adquirido as acções ao preço de 1 euro. Apercebi-me do equívoco ao ser posteriormente referido que tinha adquirido as acções a um preço diferente da FLAD, quando era minha absoluta certeza de que tal não acontecera. Apesar dessa convicção, não respondi de imediato, porque não dispunha na altura das provas documentais que podiam confirmá-la insofismavelmente", diz Rui Machete, num comunicado enviado ao PÚBLICO.
“Depois de reunidos e analisados os documentos que formalizam as referidas transacções de acções, realizadas há mais de 12 anos, estou agora em condições de afirmar peremptoriamente que não comprei acções da SLN a 1 euro, nem comprei acções da SLN a um preço diferente do que pagou a FLAD”, diz a mesma nota.
Machete diz agora que subscreveu 22.650 acções da SLN, em 27 de Dezembro de 2000, num processo de aumento de capital, a 2,2 euros, "exactamente o mesmo que pagou a FLAD, no mesmo momento e no mesmo processo, como resulta da ordem de compra que [detém] em [seu] poder e da escritura pública de reforço do capital social celebrada em 28 de Dezembro de 2000”.
Em 2003, diz o ministro, recebeu “1132 novas acções da SLN, num aumento de capital por incorporação de reservas, através do qual se atribuiu a todos os accionistas uma acção por cada vinte detidas".
A carteira de acções voltou a crescer em 2004, em mais um aumento de capital, em que exerceu o direito de aquisição de mais 500 acções ao preço unitário de 1,8 euros.
"A partir dessa data, não fiz aquisições adicionais de acções da SLN; mais uma vez, como qualquer outro accionista, incluindo a FLAD, limitei-me a receber 1214 novas acções resultantes de um novo processo de aumento de capital por incorporação de reservas realizado em 2005 (uma acção por cada vinte detidas); somando à carteira inicial as acções adquiridas em 2004 e as que resultaram dos dois processos de incorporação de reservas, fiquei assim a deter um total de 25.496 acções da SLN."
Machete finaliza o comunicado, explicando que vendeu as acções da SLN por 2,5 euros em 30 de Agosto de 2007.