Filipa Almeida: construir um projecto de vida em Portugal
No escritório de arquitectura FAHR, há um berço num dos cantos da sala. “Ter um filho cá deixa uma pessoa ainda mais enraizada”, nota Filipa Almeida, que decidiu regressar de Berlim e construir uma vida em Portugal
Filipa Almeida, arquitecta de 32 anos, abre-nos a porta do seu escritório com um sorriso nos lábios, daquelas expressões de satisfação de quem nos recebe numa casa nova. O escritório, na baixa do Porto, é a “casa” da FAHR, empresa fundada há um ano com o seu companheiro Hugo Reis, também arquitecto. Depois de seis anos a trabalhar em Berlim, as saudades fizeram Filipa regressar a Portugal.
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Filipa Almeida, arquitecta de 32 anos, abre-nos a porta do seu escritório com um sorriso nos lábios, daquelas expressões de satisfação de quem nos recebe numa casa nova. O escritório, na baixa do Porto, é a “casa” da FAHR, empresa fundada há um ano com o seu companheiro Hugo Reis, também arquitecto. Depois de seis anos a trabalhar em Berlim, as saudades fizeram Filipa regressar a Portugal.
Durante o curso, Filipa Almeida fez Erasmus em Berlim. Gostou tanto da experiência e da cidade que decidiu regressar para estagiar quando concluiu a sua formação. Acabou por ficar a trabalhar na capital alemã. Até que um dia, a vontade de regressar foi mais forte do que a vontade de continuar fora do país. “Comecei a ter cada vez mais saudades e a sentir que não estava no sítio certo, no sítio onde eu queria estar. E então, finalmente, decidi regressar a Portugal”, conta Filipa ao P3.
Foi esta palavra tão portuguesa, a saudade, que fez Filipa regressar, mas dentro dela também germinava o desejo de construir um projecto de vida em Portugal, fazer algo pelo seu país e criar raízes mais fortes. “Eu adorava Berlim, é a minha segunda cidade. Mas sentia que não queria envelhecer lá”, confessa.
“Não me imaginava a envelhecer em Berlim porque via muitas pessoas com os seus trintas e tais, quarenta anos, mas que continuavam a fazer as mesmas coisas com pessoas de vinte. Achava isso um bocado frustrante, porque queria passar pelas fases seguintes e não ficar eternamente agarrada aos vinte”, explica.
Quando tomou a decisão de regressar, Filipa fez vários contactos profissionais e reuniu algumas oportunidades mas que “não foram para frente” quando chegou a Portugal. Veio sozinha, o namorado Hugo Reis ainda ficou em Berlim. Mas depois de um tempo, regressou também.
Juntos decidiram embarcar em novos desafios: criaram uma empresa e tiveram uma filha. “Tínhamos esta vontade de fazer alguns projectos juntos e, ao fim de um tempo, decidimos que o melhor seria fundar a nossa própria empresa”, refere Filipa.
Escritório de arquitectura com berço
A FAHR não é apenas um escritório de arquitectura, o projecto passa também pela execução de “ideias criativas e irreverentes” em colaboração com outras áreas, como foi, por exemplo, a iniciativa “Hairchitecture”, onde os arquitectos projectaram penteados e cortes de cabelo. A empresa está a apostar também nas “instalações e estruturas temporárias”. Filipa reconhece que o negócio não está a correr “super bem” mas sabe que no início é mesmo assim. “As coisas vão evoluindo aos pouquinhos, com os seus passos a frente e passos atrás”.
No escritório da FAHR, há um berço num dos cantos da sala, onde dormia a Carmen. “Ter um filho cá deixa uma pessoa ainda mais enraizada”, salienta Filipa Almeida, que não descarta a hipótese de voltar a emigrar mas reconhece que neste momento “seria muito difícil”. Quando decidiu fazer Erasmus, Filipa foi vista como “uma pessoa que aceitou um desafio”, hoje em dia, o cenário é outro: “resolvi ficar, quando o normal é ir”. Apesar de lamentar a saída de bons profissionais de Portugal, Filipa sabe que “muitas pessoas não têm a opção de ficar”.
No seu caso, a vontade de construir uma vida em Portugal fez a diferença. “Apesar de vários factores externos que nos envolvem, a nível económico e político, algo mais forte do que eu me diz que quero continuar a estar cá e que vale a pena lutar pela empresa, por nós e por tentar fazer a diferença no nosso país”, afirma.