Ai Judite, Judite…
Andar aos tiros daquela maneira numa televisão generalista só pode ter um resultado: a bala escapa-se pela culatra e Judite de Sousa é agora ostensivamente odiada pela comunidade online
As redes sociais explodiram de raiva e indignação há poucos dias, após o inquisitório interrogatório (recuso-me a chamar “entrevista” àquilo) que Judite de Sousa fez a um jovem milionário. E com razão. A pergunta é: com a oferta televisiva que temos, para onde vai o jornalismo da hora de jantar?
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
As redes sociais explodiram de raiva e indignação há poucos dias, após o inquisitório interrogatório (recuso-me a chamar “entrevista” àquilo) que Judite de Sousa fez a um jovem milionário. E com razão. A pergunta é: com a oferta televisiva que temos, para onde vai o jornalismo da hora de jantar?
Comecemos pelo princípio: não é a primeira vez que Judite de Sousa surpreende a comunidade jornalística e o público em geral com a sua (perda de) ética profissional. Por algum motivo, a mudança para a TVI tirou-lhe o cunho de seriedade que sempre e tão bem ostentou na RTP. Desde as reportagens de salto alto às animadas conversas com Medina Carreira, o trajecto profissional da pivô tornou-se acidentado. Até o Marcelo se viu obrigado a mudar o paradigma dos seus comentários, ornamentando-o agora com esta e aquela prendinha de levar as mãos à cabeça.
Judite de Sousa agarrou, mais uma vez, nos sentimentos que tinha mais à mão e disparou-os violentamente na direcção de um miúdo que pouco ou nada terá feito para ser milionário. (Recorde-se que já há alguns meses tinha tido laivos de adolescente ansiosa ao entrevistar um bonzão brasileiro.) Se fosse uma conversa de café, Judite talvez tivesse alguma razão nos seus juízos de valor sobre o estilo de vida do garoto — e mesmo assim, que eu saiba, cada um faz o que quer com o dinheiro que tem.
Andar aos tiros daquela maneira numa televisão generalista só pode ter um resultado: a bala escapa-se pela culatra e Judite de Sousa é agora ostensivamente odiada pela comunidade online. Será que a apresentadora do telejornal anda a ver muita Fox News? Uma curta pesquisa pelo Facebook mostra já páginas com nomes como “Judite de Sousa – A vergonha do Jornalismo Português” ou “Judite de Sousa, o exemplo do mau jornalismo em Portugal”. Ouch!
A pena é que a tendência não parece estar a melhorar. A RTP continua com a aura (verdadeira ou não) de ser manipulada pelo Governo. A SIC exagera na originalidade e, ora mostra malta no Sudoeste a viver em caravanas e a tomar duches de mangueira ao som do “Je T’Aime… Moi Non Plus”, ora dá tempo de antena à campanha política apartidária de José Gomes Ferreira. E a TVI, apesar de ter demonstrado significantes melhorias com a chegada de José Alberto Carvalho, continua a perder-se nestas ridicularias. Manuela Moura Guedes encontrou aqui uma sucessora à altura.
A televisão parece ter agarrado com unhas e dentes o objetivo de passar a ser "infotainment" — pândega disfarçada de notícia. Uma amiga pessoal postou uma mensagem na página de Facebook da TVI com a qual concordo, propondo que a estação de Queluz de Baixo agarrasse numa parte do seu orçamento para dar (mais) formação profissional aos seus jornalistas. Não só concordo como acredito que a medida deveria ser extensível a todos os outros órgãos de comunicação social.
Falta tempo de reflexão e noção de responsabilidade a quem trabalha para o público, que deve ser respeitado e a quem deve ser prestado o melhor serviço possível. Se assim não for, Groucho Marx continuará a ter (cada vez mais) razão: “a televisão é extremamente educativa. Sempre que alguém a liga, saio da sala e vou ler um livro”.