Morreu Ruth Asawa, a artista do arame rendilhado
Americana de ascendência japonesa, Ruth Asawa deixou a sua marca na escultura
A artista nascida no sul da Califórnia tinha 16 anos quando em 1942 foi levada para um campo de trabalho juntamente com a família e outros 120 mil japoneses e descendentes nipónicos. Em plena II Guerra Mundial, a medida que visava impedir que os japoneses a residir nos Estados Unidos dessem informações ao seu país de origem foi um marco no limitar de direitos fundamentais daqueles cidadãos. Foi neste ambiente que três ilustradores dos estúdios Disney, também presos no campo de Santa Anita, Califórnia, tal compo ela, a ensinaram a desenhar.
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A artista nascida no sul da Califórnia tinha 16 anos quando em 1942 foi levada para um campo de trabalho juntamente com a família e outros 120 mil japoneses e descendentes nipónicos. Em plena II Guerra Mundial, a medida que visava impedir que os japoneses a residir nos Estados Unidos dessem informações ao seu país de origem foi um marco no limitar de direitos fundamentais daqueles cidadãos. Foi neste ambiente que três ilustradores dos estúdios Disney, também presos no campo de Santa Anita, Califórnia, tal compo ela, a ensinaram a desenhar.
Ruth Asawa não recordava esse período de forma negativa. “Não sinto revolta em relação ao que aconteceu. Não culpo ninguém. Às vezes as coisas boas aparecem na adversidade. Não seria quem sou hoje se não estivesse estado no campo de trabalho, e gosto de quem sou”, disse em 1994, aos 68 anos, citada no seu site pessoal.
Os seus trabalhos mais famosos são as suas esculturas de arame. A inspiração para a técnica que caracteriza a sua obra surgiu numa viagem ao México em 1947, quando reparou nos cestos de arame onde os produtos estavam dispostos nos mercados. “Interessou-me [o arame] pela economia da linha, por fazer algo no espaço, fechando-o sem o bloquear. [A obra] continua a ser transparente e percebi que se ia fazer estas formas que se encaixam e entrelaçam, só podia fazê-lo com uma linha, porque ela pode ir a qualquer sítio”, explicou Ruth Asawa.
Nelas, Asawa fabricava um rendilhado com o fio de arame e construía peças com formas orgânicas que se destinavam a ficar suspensas em sítios como o Museu Guggenheim (Nova Iorque), o De Young Museum (em São Francisco e que conta com mais de 150 obras da artista no seu espólio) ou o Whitney Museum of American Art (Nova Iorque). Em Maio deste ano, muitas das suas peças ,entre desenhos e esculturas, estiveram na sua exposição individual no Rockefeller Center, em Nova Iorque. No mesmo mês, a leiloeira Christie’s vendeu uma das esculturas em arame de Asawa por mais de 1 milhão de dólares (cerca de 750 mil euros).
É conhecida também pelos seus trabalhos de arte pública, como a fonte da praça Ghirardelli, em São Francisco, que apresenta as estátuas de duas sereias, uma delas com um bebé, junto de animais como sapos e tartarugas. Este trabalho conhecido como Fountain Lady desencadeou polémica levantando discussões sobre género, mas também estéticas. O arquitecto paisagista Lawrence Halprin, que tinha encomendado este trabalho a Asawa, era apreciador das suas criações abstractas, mas achou que estas esculturas com inspiração no fantástico se pareciam com as de um “jardim suburbano”. “Para os velhos, trará a fantasia da sua infância, para os mais novos, será algo para recordarem quando chegarem a velhos”, respondeu Ruth Asawa.