Bombeiro da Covilhã é o 104º. a morrer em fogos florestais desde 1980
Homem de 41 anos morreu quando, juntamente com mais três bombeiros, tentava evitar que as chamas atingissem casas em risco.
Estava a lutar contra um incêndio que deflagrara às 12h35 na freguesia da Coutada, concelho da Covilhã, e que até ao princípio da noite ainda não estava controlado.
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Estava a lutar contra um incêndio que deflagrara às 12h35 na freguesia da Coutada, concelho da Covilhã, e que até ao princípio da noite ainda não estava controlado.
Entre um momento e outro, Pedro Rodrigues morreu, apanhado pelas chamas. Segundo alguns relatos, o bombeiro estava a tentar evitar que as chamas atingissem uma habitação. No combate a um incêndio, a prioridade é proteger pessoas e bens. Estava acompanhado por mais três bombeiros. Mas o vento traiu-lhe, deixando-o isolado. Não pode fazer mais do que enrolar-se sobre si próprio, no chão.
“O bombeiro estava devidamente enquadrado por uma equipa, havia uma estratégia bem definida, mas houve uma alteração do vento que o separou dos colegas, que ainda lhe gritaram. Não conseguiu. São anormalidades que acontecem aos mais bem formados”, disse ao PÚBLICO Jaime Marta Soares, presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses.
“É com profundo pesar que sentimos a perda de um companheiro, um bombeiro, um operacional de protecção e socorro”, lamentou a Autoridade Nacional de Protecção Civil, num curto comunicado que não esclarece o que se passou em concreto.
Desde 1980, morreram 217 bombeiros em Portugal, enquanto estavam em serviço. Destes, 104 perderam a vida em incêndios florestais, segundo Duarte Caldeira, ex-presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, que está a elaborar um estudo sobre o assunto.
“O combate a um incêndio urbano é feito num espaço confinado. Um fogo florestal arrasta-se por várias frentes”, acrescenta. “Há alguma dose de imprevisibilidade”.
Este ano, já são dois os bombeiros mortos nos fogos. O primeiro faleceu há cerca de duas semanas, depois de ter sofrido graves queimaduras num incêndio a 1 de Agosto.
Jaime Marta Soares diz que um incêndio florestal “é um adversário terrível, que tem armas que um ser humano não tem”, mesmo se os bombeiros possuem, como os portugueses possuem, sublinha, todas as técnicas e conhecimentos para combater as chamas.
Se atinge “zonas difíceis, uma alteração brusca de vento pode ser suficiente para um bombeiro ficar rodeado pelo fogo”, continua. Terá sido isso, diz, que aconteceu ontem na Covilhã.
Também foi o que aconteceu no passado domingo, quando quatro bombeiros estiveram mais de uma hora cercados pelas chamas, em situação crítica, até serem resgatados.
O funeral do bombeiro que morreu na Covilhã realiza-se no sábado, às 15h30, no cemitério da cidade. O corpo será transportado esta sexta-feira, às 19h, para o quartel dos Bombeiros da Covilhã, onde ficará em câmara ardente.
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