Conselho de Segurança reúne-se de emergência para discutir o Egipto

Os números oficiais apontam para 578 mortos na quarta-feira. Exército tem ordem para disparar sobre manifestantes. EUA cancelam exercícios militares conjuntos.

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A reunião do Conselho de Segurança foi pedida pela França, Reino Unido e Austrália. A alta-comissária para os Direitos Humanos da ONU, Navi Pillay, tinha pedido entretanto a abertura de uma investigação “independente, imparcial e credível” à conduta das forças de segurança do Egipto durante a operação para o despejo dos manifestantes concentrados nas imediações da mesquita de Ranaa al-Adawiya, no subúrbio de Nasr City. “As forças de segurança do Egipto estão enquadradas pela lei, e têm de agir no estrito respeito pelos direitos humanos, que incluem o direito à liberdade de expressão e assembleia”, observou.

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A reunião do Conselho de Segurança foi pedida pela França, Reino Unido e Austrália. A alta-comissária para os Direitos Humanos da ONU, Navi Pillay, tinha pedido entretanto a abertura de uma investigação “independente, imparcial e credível” à conduta das forças de segurança do Egipto durante a operação para o despejo dos manifestantes concentrados nas imediações da mesquita de Ranaa al-Adawiya, no subúrbio de Nasr City. “As forças de segurança do Egipto estão enquadradas pela lei, e têm de agir no estrito respeito pelos direitos humanos, que incluem o direito à liberdade de expressão e assembleia”, observou.

Barack Obama interrompeu as suas férias para anunciar que os Estados Unidos, perante a escalada da violência no Egipto, encaravam a possibilidade de revisão da sua cooperação militar com o país, que contempla a distribuição anual de cerca de 1,3 mil milhões de dólares em apoio ao Exército nacional. Para já, ficavam cancelados os exercícios militares conjuntos Bright Star, iniciados em 1981 no âmbito dos Acordos de Camp David, e que estavam marcados para meados de Setembro na região do Sinai.

“A nossa cooperação não pode continuar como o costume quando estão a ser atacados civis”, explicou o Presidente Barack Obama.

Durante a tarde desta quarta-feira, houve manifestações e confrontos por vezes violentos. Manifestantes da Irmandade Muçulmana tomaram e incendiaram um edifício governamental no Cairo.

Dois líderes importantes da Irmandade Muçulmana foram atingidos a tiro na quarta-feira – não terão sido mortos, mas o porta-voz do partido Gehad El-Haddad, citado pela Reuters, diz não saber onde estarão. Aliás, não se conhece o paradeiro de vários outros dirigentes do partido do Presidente Mohamed Morsi, deposto por um golpe com o apoio dos militares a 3 de Julho, e detido desde então. A sua detenção foi, aliás, prolongada hoje por mais 30 dias.

Morsi foi o primeiro Presidente democraticamente eleito no Egipto, embora o seu primeiro ano no cargo estivesse a gerar grande insatisfação por causa da sua agenda de islamização da sociedade.

Morto por snipers
Durante o dia, nas várias morgues, tantas vezes improvisadas, espalhadas pelo Cairo, viveu-se um cenário de caos, relata a Reuters. Os muçulmanos enterram os seus mortos 24 horas após o óbito, e tudo o que os familiares queriam era que os corpos fossem libertados para poderem fazer o funeral.

Os corpos tinham sido massacrados com balas, esmagados com bulldozers, tinham as marcas dos efeitos de gás lacrimogénio, de terem sido pisados, de terem sido queimados, descreve a Reuters, que visitou a morgue de Zaynhom. Os cadáveres estavam enrolados em lençóis, cobertores, jornais.

“Este é o meu irmão. Tinha uma bala na cabeça. Foi morto por snipers", diz Sayyed Tareq, de 35 anos, apontando para um corpo envolto em cobertores ensaguentados e rodeado de blocos de gelo, já a derreter, num esforço vão para tentar evitar a decomposição.

Na mesquita Al-Iman, que era uma espécie de quartel-general da Irmandade Muçulmana e foi ontem queimada pela polícia, acumulavam-se cadáveres enrolados em sudários brancos. Segundo a Reuters, tratar-se-ia de 200 corpos, que a Irmandade Muçulmana denunciava que não teriam entrado na contabilidade oficial do Ministério da Saúde.

Na quarta-feira, foi decretado o estado de emergência em todo o país – um regresso à situação de excepção que se viveu durante o regime de Hosni Mubarak, deposto em 2011 – e o recolher obrigatório foi anunciado para o Cairo e onze províncias.

Essas medidas extraordinárias devolvem à polícia e ao Exército o poder para efectuar detenções por tempo indeterminado invocando razões de segurança. Os comentadores temem o regresso do Estado autocrático, mas as hierarquias militares, responsáveis pela deposição de Morsi, garantem que o regime só vigorará por um mês.

De Lisboa, o Governo português condenou esta quinta-feira com “firmeza” a violência no Egipto e apelou à contenção e ao diálogo de todas as partes. O Ministério dos Negócios Estrangeiros garante ainda que está “particularmente atento à situação dos cidadãos portugueses que se encontram no Egipto”.