Polémica estátua ao cónego Melo colocada neste sábado em Braga
PCP e BE contestam homenagem, que consideram uma "provocação".
Numa iniciativa de um grupo de cidadãos de Braga, para homenagear aquele que foi vigário geral da arquidiocese durante mais de três décadas, a estátua foi colocada na rotunda de Monte de Arcos. A cerimónia da inauguração, que chegou a estar prevista para 15 de Agosto, foi adiada para depois das eleições autárquicas.
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Numa iniciativa de um grupo de cidadãos de Braga, para homenagear aquele que foi vigário geral da arquidiocese durante mais de três décadas, a estátua foi colocada na rotunda de Monte de Arcos. A cerimónia da inauguração, que chegou a estar prevista para 15 de Agosto, foi adiada para depois das eleições autárquicas.
Na câmara, a colocação do monumento foi aprovada com os votos favoráveis do PS e com a abstenção dos vereadores eleitos pela coligação Juntos por Braga (PSD, CDS-PP e PPM).
“Quer homenagear o cidadão cónego de Melo. Que fique bem claro. O cidadão, o bracarense, que era um bracarense dos sete costados. Era um grande bracarense e, como tal, é essa homenagem que nós lhe devemos. O resto tem que ser abstraído”, justificou o presidente da Câmara, Mesquita Machado.
“A autarquia autoriza mas não tem nenhum envolvimento directo na iniciativa. Entendemos que é uma iniciativa que não iríamos desenvolver, mas também não íamos obstaculizar”, disse, por sua vez, o líder da coligação Juntos por Braga, Ricardo Rio.
Contestação à esquerda
O Bloco de Esquerda de Braga considera que a estátua é uma “provocação”, sublinhando que o homenageado, logo após a revolução do 25 de Abril de 1974, que levou à queda da ditadura, “participou na organização fascista autodenominada Exército de Libertação Nacional [ELP], promoveu a destruição de sedes do PCP e de organizações de esquerda e apoiou atentados bombistas, designadamente o que vitimou o padre Max”.
“No período constitucional, o cónego Melo foi um activo promotor de interesses imobiliários especulativos, por vezes contra a própria igreja bracarense, como aliás foi denunciado por sectores desta, a propósito, designadamente, dos terrenos da Quinta do Colégio dos Órfãos”, acrescenta um comunicado do Bloco de Esquerda.
A estátua é igualmente contestada pelo PCP, que defende que a iniciativa deve ser “fortemente repudiada” pelos “defensores” da liberdade. “O cónego desenvolveu um dos mais destacados papéis como autor e mandante na conspiração ao serviço da extrema-direita, ao serviço da contra revolução, que, da forma mais hipócrita e mentirosa, justificou como sendo ao serviço da religião e da Igreja Católica”, acusou António Lopes, histórico militante do PCP/Braga.
A homenagem ao cónego Melo foi proposta por um grupo de cidadãos que entende que “foi um homem que tantos serviços prestou” e que, por isso, esta estátua “é merecida”. Segundo um dos responsáveis pela iniciativa, Pinto Cardoso, “era difícil os bracarenses aceitarem que a estátua não fosse colocada”.
“Estamos numa altura em que a sociedade está muito pobre em valores. O cónego Melo foi uma pessoa extraordinária. É difícil acontecer aparecerem agora valores destes. São exemplos para as juventudes vindouras”, justificou, assim, o motivo da homenagem.
Quanto às críticas, Pinto Cardoso defendeu que “os que agora cortam no cónego Melo, o fazem por desconhecimento ou maldade”.