Comité Olímpico pede à Rússia informações sobre lei contra propaganda homossexual

Ministro do Desporto diz que a Rússia não tem razões para temer apelos ao boicote e acusa críticos de quererem apenas denegrir imagem do país

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Os Mundiais de Atletismo começam sábado em Moscovo Kirill Kudryavtsev/AFP

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Em Moscovo para a abertura, no sábado, dos Mundiais de Atletismo, Jacques Rogge explicou que, quando a lei foi aprovada, o COI recebeu “todas as garantias” da parte dos organizadores russos de que o diploma não infringia a Carta Olímpica, mas decidiu ainda assim pedir que o compromisso ficasse escrito.

“Recebemos as garantias ontem [quinta-feira] e estivemos a estudá-las, mas há ainda incertezas e por isso decidimos pedir uma clarificação. Estamos há espera disso para tomar uma decisão final”, disse Rogge, no final de uma reunião entre o comité executivo do COI e a Federação Internacional de Atletismo, na capital russa.

Questionado sobre quais os pontos que levantaram dúvidas, o presidente do COI disse que não se tratar de um “assunto fundamental”, mas de “uma questão de tradução”. “Há dois parágrafos que queremos garantir que estão bem traduzidos antes de podermos emitir um comentário geral”, acrescentou.

Esta é a primeira vez que o COI se pronuncia sobre o polémico diploma que, segundo organizações de defesa dos direitos humanos, legitima a homofobia e a perseguição aos gays na Rússia. O texto criminaliza actos de “propaganda homossexual” na presença de menores, prevendo, no caso de estrangeiros, multas até 2300 euros, penas de até 15 dias de prisão e a expulsão do país, refere a AFP. Os críticos dizem ainda que a lei, ao não estipular exactamente o que constitui propaganda, abre caminho à prisão a quem participar em marchas gay ou falar publicamente a favor dos direitos homossexuais.

Com a atenção internacional concentrada no Campeonato do Mundo de Atletismo, activistas contra a homofobia, aproveitaram para fazer apelos ao boicote dos Jogos ou, como fez o actor britânico Stephen Fry numa carta aberta ao presidente do COI, defender que seja retirada à Rússia a organização do evento. Sem pronunciar sobre estes apelos, Rogge recordou que a Carta Olímpica é bem clara “quando estipula que todos os atletas têm direito de competir, sejam qual for a sua raça, religião ou orientação sexual”.

Rússia desvaloriza apelos

O ministro do Desporto da Rússia, Vitali Mutko, disse nesta sexta-feira que a Rússia “não tem razões para temer os apelos ao boicote” e acusou quem os faz de querer apenas denegrir a imagem do país. “Quanto mais forte é a Rússia, mais desagrada a algumas pessoas”, afirmou Vitali Mukto.

O governanente já se tinha pronunciado sobre a polémica na quinta-feira, ao assegurar que "todos os atletas e organizações devem ficar tranquilos, pois os seus direitos serão protegidos”. A lei aprovada pela Duma “não se destina a privar ninguém dos seus direitos, seja qual for a sua religião, raça ou orientação sexual, mas apenas a proibir a promoção de relações não-tradicionais entre as gerações mais novas”. acrescentou o ministro, durante uma conferência de imprensa com o presidente da Federação Internacional de Atletismo (IAAF), Lamine Diack.

 “É preciso respeitar as leis do país onde se está, mas este é um acontecimento desportivo e é só sobre isso que devemos falar”.

Questionado sobre o mesmo assunto, Diack disse não ter "qualquer problema" com o diploma. A Rússia tem as suas leis. E cada atleta tem a sua vida privada. Não vamos estar levantar questões a propósito de tudo e de nada”, respondeu o senegalês, antes de acrescentar: “Estamos aqui para o Campeonato do Mundo e não temos qualquer problema, nem estamos de todo preocupados.