Divulgado discurso de 1983 em que Isabel II anunciaria aos britânicos III Guerra Mundial

Texto tornado público pelo Governo foi escrito num dos momentos de maior tensão da Guerra Fria

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O discurso preparado para a monarca pede aos britânicos para se manterem unidos Oli Scarff/Reuters

A intervenção foi preparada no quadro de exercícios militares realizados em Março de 1983, um dos anos mais tensos da já longa Guerra Fria, em que se simulou uma resposta "nuclear de dimensão limitada" da NATO a um ataque com armas químicas do Pacto de Varsóvia contra o Reino Unido.

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A intervenção foi preparada no quadro de exercícios militares realizados em Março de 1983, um dos anos mais tensos da já longa Guerra Fria, em que se simulou uma resposta "nuclear de dimensão limitada" da NATO a um ataque com armas químicas do Pacto de Varsóvia contra o Reino Unido.

Nesse mesmo mês, recorda a BBC, o Presidente norte-americano, Ronald Reagan, enfureceu Moscovo, primeiro com o discurso em que chamou à União Soviética o “Império do Mal”, depois com a promessa de criar um escudo para proteger o território americano dos mísseis balísticos russos, num programa que ficaria conhecido como “Guerra das Estrelas”. A tensão escalaria meses depois, quando a URSS abateu um avião comercial sul-coreano que entrara no seu espaço aéreo, provocando a morte dos seus 269 passageiros e, dois meses mais tarde, os dois blocos abeiraram-se mesmo da guerra na sequência de um exercício da NATO que, pelo seu realismo, levou Moscovo a suspeitar que os aliados estariam a preparar uma ofensiva.

É neste contexto que o Governo britânico preparou a simulação de um discurso ao país que a rainha Isabel II poderia proferir no caso de as ameaças que pairavam sobre a Europa se concretizassem. No texto agora divulgado – ao abrigo da lei que prevê a divulgação de documentos confidenciais passados 30 anos da sua elaboração – a monarca pede aos britânicos para se manterem unidos perante “um novo mal” que ameaça o país.

O discurso, citado agora pela BBC, recorda a “tristeza e o orgulho” que a monarca diz ter sentido quando ouviu através na rádio o discurso do seu pai, Jorge VI, no início da II Guerra Mundial, em 1939, e acrescenta: “Nunca, por um único momento, pensei que este solene e terrível dever caísse sobre mim um dia”. Lembra ainda que um dos seus filhos, o príncipe André, servia então como piloto de combate da Marinha e diz que é “na união das famílias” e de todos os britânicos que o país encontrará forças para “sobreviver contra grandes probabilidades”.

No mesmo dia em que divulgou o discurso da “III Guerra Mundial”, o Governo tornou públicos dezenas de outros documentos oficiais datados de 1983, incluindo cartas em que se revela que a então primeira-ministra britânica vetou a escolha do actual chefe da diplomacia britânica, William Hague, como conselheiro do Ministério das Finanças, dizendo que apesar da notoriedade que o jovem, então com 21 anos, obtivera com discursos nas convenções dos conservadores, a sua nomeação seria um “embaraço” para o Governo.

Noutro documento, revela-se que o Ministério da Defesa desenvolveu durante as Guerras da Malvinas uma arma de laser para “atordoar” os pilotos da Força Aérea argentina, mas apesar de ter sido rapidamente posto à disposição dos militares britânicos não chegou a ser usado.

Notícia corrigida às 17h12: Corrige-se informação de que o exercício militar de 1983 simulou a resposta a um ataque químico contra o Reino Unido e não um ataque nuclear, como referido por erro.