Castorf enfrenta o público de Bayreuth e é vaiado

Na estreia da última parte de O Anel de Nibelungo confirmou-se o veredicto: o público não gostou da encenação arrojada de Frank Castorf.

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Depois de ver as suas primeiras três encenações vaiadas (O Ouro do Reno, A Valquíria e Siegfried), Frank Castorf subiu ao palco, ouviu os assobios e em seguida apontou com o indicador para o público e para a própria testa, num gesto provocatório. Como é tradição nas apresentações deste libreto em Bayreuth, o encenador deve esperar até que o ciclo de quatro espectáculos (16 horas) seja apresentado para subir ao palco.

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Depois de ver as suas primeiras três encenações vaiadas (O Ouro do Reno, A Valquíria e Siegfried), Frank Castorf subiu ao palco, ouviu os assobios e em seguida apontou com o indicador para o público e para a própria testa, num gesto provocatório. Como é tradição nas apresentações deste libreto em Bayreuth, o encenador deve esperar até que o ciclo de quatro espectáculos (16 horas) seja apresentado para subir ao palco.

Ao contrário do que tinha acontecido nas três primeiras partes do Anel, desta vez também dois dos cantores foram assobiados. A participação do baixo Attila Jund, que interpreta o papel de Hagen, foi decepcionante, segundo o relato da agência de notícias AFP, e o tenor canadiano Lance Ryan, no papel de Siegfried, um dos mais exigentes da obra de Wagner, apresentou uma “voz tensa e cansada”. Ambos foram vaiados pelo público wagneriano de Bayreuth.

Como já tinha acontecido nas anteriores estreias, a estrela da noite voltou a ser o maestro russo Kyrill Petrenko, ovacionado mais uma vez pela condução de O Crepúsculo dos Deuses. A soprano britânica Catherine Foster, estreante neste festival, tal como Petrenko, foi também fortemente aplaudida.

Na encenação que fez do Anel, Frank Castorf substituiu as referências mitológicas com que Wagner escreveu a sua história por personagens, lugares e temas políticos e ideológicos dos séculos XX e XXI. Na semana passada, o encenador disse à Deutsche Welle que concordou com o pedido de Petrenko de não alterar a partitura, mas não abdicou de mexer na história. “São os desvios que me interessam”, disse em relação ao seu método particular de se distanciar dos textos originais que encena. Na mesma entrevista, Castorf acrescentou que, se não houvesse irritação na reacção do público, não teria graça.

O encenador berlinense de 61 anos, conhecido pela forma pouco convencional com que adapta clássicos, foi escolhido para encenar O Anel do Nibelungo no festival fundado em 1876 pelo próprio Richard Wagner. Este programa em Bayreuth foi anunciado como o apogeu das celebrações do bicentenário do nascimento do compositor alemão. Antes do início do festival, Castorf disse que não teve o tempo necessário para o empreendimento que é encenar a tetralogia de Wagner. Foram-lhe dados dois anos, depois de o realizador Wim Wenders, inicialmente escolhido, ter desistido.

O ciclo completo de O Anel do Nibelungo por Frank Castorf volta ao palco de Bayreuth mais três vezes, até 28 de Agosto, data do fim do festival. Os bilhetes para a edição deste ano foram sendo reservados de há dez anos a esta parte.