O copyright da Terra
Moat Lane era uma dessas ruas falsas, em Londres, que surgia referenciada até há pouco no Google Maps, embora a própria Google afirmasse que era um erro e não uma trap street
Até aos primeiros satélites, os mapas eram criações caras e lentas, que exigiam técnicos especializados a percorrer milhares de quilómetros para medir, desenhar e cartografar a Terra. Trabalho que era, depois, muito fácil de copiar, bastando mudar as cores do terreno, a grossura das linhas, a legenda ou a escala dos mapas originais.
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Até aos primeiros satélites, os mapas eram criações caras e lentas, que exigiam técnicos especializados a percorrer milhares de quilómetros para medir, desenhar e cartografar a Terra. Trabalho que era, depois, muito fácil de copiar, bastando mudar as cores do terreno, a grossura das linhas, a legenda ou a escala dos mapas originais.
Não admira que os criadores de mapas tentassem defender o seu "copyright", processando outras empresas que os copiassem, como aconteceu à Ordnance Survey, o serviço cartográfico nacional britânico, que em 2001 processou a Automobile Association, o clube automóvel daquele país, sob a acusação de ter plagiado os seus mapas.
O problema é descobrir se um mapa, que retrata exatamente a mesma região que outro, é original ou cópia. No caso do processo judicial da Ordnance Survey, a acusação baseou-se em elementos de design dos mapas, como a largura das estradas. No entanto, o procedimento típico de muitos cartógrafos é o de introduzirem elementos falsos nos seus mapas, como ruas e ribeiros inexistentes, curvas exageradas, edifícios e paisagens deformadas, que permitam identificar potenciais cópias.
A prática é tão comum que até tem um nome e uma entrada na Wikipédia: "trap streets" ou ruas falsas. E alguns mapas chegam ao ponto de avisar o respectivo utilizador de que os poderá encontrar, não sendo tais logros tão raros quanto isso: a Wikipédia diz que há mapas da cidade de Londres com centenas de pormenores e localizações falsos.
E nem os mapas da era digital escapam a tal prática: Moat Lane era uma dessas ruas falsas, em Londres, que surgia referenciada até há pouco no Google Maps, embora a própria Google afirmasse que era um erro e não uma "trap street". E o Google Earth, da mesma empresa, ainda regista Sandy Island, uma ilha inexistente na Nova Caledónia, que muitos acreditam ser uma das "trap streets" com que a Google protege o seu copyright das imagens da Terra.
Saber que muitos mapas não são reproduções fiéis da realidade pode ser um conforto para quem se costuma perder mesmo quando os leva na mão, mas também nos leva à conclusão de que até quando se tenta registar a realidade mais objectiva é necessário recorrer à mentira e à criatividade, pois só a invenção, o erro e o defeito são singulares, únicos e intransmissíveis.