Câmara de Lisboa disposta a encontrar solução para a The Lisbon Players

Quarteirão da cidade vendida pelo Governo britânico.

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Quercus alerta para as consequências nefastas resultantes do uso de químicos tóxicos Carlos Lopes/Arquivo

A companhia inglesa está sediada no Estrela Hall, sala de teatro perto da Basílica da Estrela, desde 1947, mas o quarteirão que alberga o espaço foi vendido pelo Governo inglês a privados, obrigando à saída da associação, que se opõe à venda.

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A companhia inglesa está sediada no Estrela Hall, sala de teatro perto da Basílica da Estrela, desde 1947, mas o quarteirão que alberga o espaço foi vendido pelo Governo inglês a privados, obrigando à saída da associação, que se opõe à venda.

Em resposta escrita enviada à agência Lusa, nesta terça-feira, a embaixada britânica em Portugal refere que assinou o contrato de venda no passado dia 18. Esclareceu que, em 2010, os tribunais portugueses decidiram que o Governo Britânico era o legítimo proprietário dos terrenos e que "tinha o direito de os vender".

Numa nota assinada pela vereadora da Cultura da Câmara de Lisboa, enviada à direcção da Associação de Teatro Inglês - The Lisbon Players, e a que a Lusa teve acesso, Catarina Vaz Pinto reconhece "o trabalho e o elevado interesse cultural" da companhia e manifesta "a disponibilidade para contribuir para a obtenção de uma solução que permita viabilizar a manutenção da actividade da The Lisbon Players nos actuais moldes de funcionamento".

O Governo britânico justificou a venda dos terrenos – que incluem o ex-Hospital Britânico, o Royal British Club, o ex-British Parsonage, o cemitério Judeu e o espaço da The Lisbon Players –, com "a estratégia que tem vindo a ser seguida pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, de alienar as propriedades no estrangeiro que não estejam relacionadas com a sua actividade diplomática."

O Governo britânico reclamou a posse de toda a área por usucapião (lei portuguesa que permite reclamar a posse de uma propriedade em função dos anos de ocupação), em 2009, acrescentando que a "maioria dos stakeholders (partes interessadas) concordaram que os terrenos fossem vendidos em bloco".

Contudo, a The Lisbon Players contestou a situação em tribunal, mas a decisão judicial seria favorável ao Governo britânico.

A companhia teatral denuncia também que "o local foi abandonado há cerca de 40 anos", e, desde aí, a The Lisbon Players "assumiu a responsabilidade de cuidar, recuperar, conservar e converter a sala de teatro às suas custas, não tendo imputado quaisquer custos aos contribuintes, portugueses ou britânicos".

Jonathan Weightman, director da The Lisbon Players, disse que os terrenos foram vendidos por 3,2 milhões de euros a um empresário, o qual "pretende construir uma clínica médica e estética".

A embaixada escusou-se a fazer comentários sobre o valor e os projectos em vista, mas esclareceu que "não irá receber nada em resultado da venda, mas apenas pelos custos com o processo de venda".

Na resposta enviada à Lusa, a embaixada britânica em Portugal acrescentou que "foi dada à The Lisbon Players tempo para procurar um local alternativo para transferir a sua actividade, e que foi acordado entre todos os interessados que a companhia receberia 2,8% dos resultados líquidos partilhados".

Jonathan Weightman confirmou as alternativas apresentadas pelos britânicos, mas frisou que os espaços "não tinham as condições necessárias". O responsável adiantou que já contactou o novo proprietário dos terrenos.

"Estamos a aguardar uma resposta para ver se podemos continuar com nosso trabalho aqui", avançou Jonathan Weightman, que, caso a companhia tenha de sair do Estrela Hall "corre o risco de chegar ao seu fim", apesar "de já estar a preparar seis peças para a próxima temporada".

Os terrenos da polémica foram, originalmente, oferecidos, no século XVIII, pela coroa portuguesa, para benefício cultural das comunidades estrangeiras residentes em Portugal, maioritariamente ingleses, holandeses e judeus.