Câmara de Oeiras garante dez milhões de euros para levar o SATU até ao Cacém

O monocarril tem prejuízos de três milhões de euros por ano. Extensão da linha só deverá avançar se houver fundos europeus.

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Monocarril tem capacidade para 112 pessoas Ana Banha/Arquivo

O comboio monocarril não tripulado de Oeiras foi inaugurado em Junho de 2004 e percorre apenas 1,2 quilómetros desde a estação ferroviária de Paço de Arcos até ao centro comercial Oeiras Parque. A concretizar-se o investimento municipal, este será repartido por três fases e permitirá aumentar a linha em cerca de 10,5 quilómetros.

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O comboio monocarril não tripulado de Oeiras foi inaugurado em Junho de 2004 e percorre apenas 1,2 quilómetros desde a estação ferroviária de Paço de Arcos até ao centro comercial Oeiras Parque. A concretizar-se o investimento municipal, este será repartido por três fases e permitirá aumentar a linha em cerca de 10,5 quilómetros.

Segundo Lurdes Vaz, administradora da SATU-Oeiras, empresa que gere o sistema, o projecto terá também um investimento da Câmara de Sintra no valor de 4,2 milhões de euros, bem como de privados, num montante que ronda os 21 milhões de euros. A autarquia vai candidatar o projecto ao próximo Quadro de Referência Estratégica Nacional (QREN), com o objectivo de obter 107 milhões de euros a fundo perdido.

“O projecto nunca deveria ter ficado pela primeira fase”, diz Lurdes Vaz, que atribui a fraca adesão dos passageiros — 750 por dia, segundo a administradora — à reduzida dimensão da linha. Segundo um estudo recente, pelo qual a câmara pagou 65 mil euros através de um ajuste directo, quando a linha chegar ao Cacém deverá transportar 30 mil pessoas por dia. O prolongamento, previsto desde o início, ligará as linhas férreas de Sintra e Cascais, passando pelos centros empresariais Lagoas Park e Taguspark.

“Os grandes beneficiários são os residentes no Cacém e em São Marcos”, garante, sublinhando que o projecto tem o apoio do secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro. “Estamos muito optimistas”, afirma. A previsão da câmara é ter a ligação concluída em 2018. “Há-de tornar-se auto-sustentável em 2020”, afirma a administradora.

Desde o início que o projecto está envolto em polémica. A sociedade SATU-Oeiras, detida a 51% pela autarquia e 49% pela empresa Teixeira Duarte, acumula prejuízos que rondam os três milhões de euros por ano, devido à escassez de passageiros. Em Fevereiro último, o PS de Oeiras propôs a realização de um referendo local para decidir a continuidade do SATU, mas a ideia foi chumbada pela Assembleia Municipal. Em Maio, o Tribunal de Contas pediu esclarecimentos sobre este sistema ao executivo liderado por Paulo Vistas, que substituiu Isaltino Morais quando este foi preso, a 24 de Abril.

O compromisso aprovado ontem em reunião de câmara, com os votos favoráveis da maioria Isaltino Oeiras Mais à Frente, mereceu a abstenção do PSD e do PS e o voto contra da CDU.

O vereador Ricardo Rodrigues, do PSD, diz que o partido apenas apoia o projecto se for aprovada a candidatura ao QREN. “Se não houver verba temos de pensar noutra solução”, afirma.

Já os socialistas têm uma posição “absolutamente contrária” ao prolongamento do SATU, diz Marcos Sá, deputado na Assembleia Municipal e candidato pelo PS à presidência da câmara. O deputado considera que o monocarril, tal como está pensado, “não resolve o problema de mobilidade” do concelho. Diz ainda que a Teixeira Duarte “não cumpriu com a sua obrigação” de investir 37 milhões de euros na extensão da linha até ao Lagoas Park. "É de uma grande irresponsabilidade estar a condicionar o futuro de Oeiras num projecto que está falhado", critica Marcos Sá.

Por sua vez, o deputado municipal Daniel Branco, da CDU, não acredita que o SATU possa transportar 30 mil pessoas por dia. “Nem vale a pena estarmos a sonhar”, afirma, dizendo que este não é um transporte colectivo “a sério”.