Com a ajuda da Noruega, Portugal recupera herança judaica

Rotas de Sefarad vai custar cinco milhões de euros e poderá atrair 300 mil turistas.

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Belmonte será um dos pontos fundamentais da rota Paulo Pimenta

Estes são os valores estimados do potencial económico de um projecto que, como sublinham os seus promotores, é em primeiro lugar cultural.

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Estes são os valores estimados do potencial económico de um projecto que, como sublinham os seus promotores, é em primeiro lugar cultural.

“Há 14 milhões de judeus no mundo, 20 por cento dos quais são de origem sefardita [judeus da Península Ibérica]”, lembrou, em declarações ao PÚBLICO, Jorge Patrão, secretário-geral da Rede de Judiarias de Portugal, no final da cerimónia, na Biblioteca do Palácio da Ajuda, em Lisboa, em que foi anunciado o projecto. “A Espanha está a apostar muito nas ligações aéreas com Israel, que nós não temos. Estes mercados têm que ser tratados como emergentes e estratégicos. Mas isto não é um projecto turístico, é um projecto cultural. O principal para nós é recuperar esta vertente da história de Portugal que está esquecida”. 

O projecto nasceu há cerca de dois anos, e, segundo contou Patrão, foi apresentado inicialmente ao então secretário de Estado da Cultura Francisco José Viegas, que sugeriu a candidatura ao EEA Grants, um programa da Noruega, Islândia e Liechtenstein (no qual a Noruega contribui com 97% do fundos). “Encaixa muito bem naquilo que queremos apoiar, que são projectos ligados ao património mas que permitam também desenvolver o turismo e que esperamos que contribuam para a economia”, afirmou o embaixador norueguês, Ove Thorsheim, também presente na cerimónia. 

A Noruega contribui com quatro milhões de euros, enquanto o Estado português participa com cerca de 700 mil euros – um total de perto de cinco milhões que permitirá restaurar ou valorizar símbolos da presença judaica em Portugal. Estão previstos, entre outros, a revitalização da sinagoga de Tomar, a criação de um Memorial da Vida de Aristides Sousa Mendes, em Vilar Formoso, a recuperação das sinagogas de Almeida e de Vilar Maior (uma antiga sinagoga medieval recentemente descoberta), criar o Centro de Interpretação da Cultura Sefardita do Nordeste Transmontano, em Bragança (com projecto do arquitecto Eduardo Souto de Moura), ou a recriação da Casa da Inquisição em Reguengos de Monsaraz. A criação da rota envolve nove municípios e seis entidades regionais de turismo, para além da Comunidade Judaica de Belmonte. 

O secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, declarou ao PÚBLICO que a iniciativa vai traduzir-se num aumento “significativo” dos visitantes, atraídos pela história, mas escusou-se a avançar números. “O turismo é um resultado. Não há um turismo qualificado sem haver antes um trabalho de projecto cultural. O que nos distingue de outros países é a densidade do nosso património nas mais diversas vertentes e o que estamos a fazer aqui hoje é a investir numa dessas vertentes. Brevemente anunciaremos investimentos num conjunto de catedrais, o património cristão. Será interessante também trabalhar o património islâmico.”

Durante a cerimónia tinha deixado um recado aos responsáveis autárquicos envolvidos: “Não podemos pensar que vamos usar este dinheiro para ganhar mais uma eleição, arranjar uma parede ou fazer um site”. Este é um projecto no qual “não há hipótese de falhar [porque] nenhum de nós tem hoje tempo, disponibilidade ou dinheiro para poder falhar.”