“Passam-se coisas estranhas na Livraria Noite e Dia”
“A Livraria Noite e Dia do Senhor Penumbra” é uma aventura divertida, misteriosa, com problemas contemporâneos, e sem grandes ambições literárias
Clay Jannon é um jovem desempregado e desiludido com a sua vida. Após procurar, e não encontrar, trabalho na sua área de estudo (designer, formado na Escola de Artes), ele responde a um anúncio de emprego para uma misteriosa livraria.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Clay Jannon é um jovem desempregado e desiludido com a sua vida. Após procurar, e não encontrar, trabalho na sua área de estudo (designer, formado na Escola de Artes), ele responde a um anúncio de emprego para uma misteriosa livraria.
O personagem, que só lê em e-reader ou computador, é contratado pelo Sr. Penumbra para atender os clientes que frequentam o estabelecimento. E começa a aventura em “A Livraria Noite e Dia do Senhor Penumbra” (Bertrand).
A aventura de Jannon e, posteriormente, seus amigos é uma curiosa abordagem à hipotética incompatibilidade entre o mundo tecnológico e “o saber antigo”.
Os conhecimentos tecnológicos de Kat, amiga de Jannon, são essenciais para descodificar um importante enigma. O que não foi descoberto durante séculos por várias individualidades foi desvendado num dia com a ajuda de um algoritmo.
No entanto, não existe dogmatismo, por parte de Robin Sloan, autor e blogger norte-americano, na defesa de uma pretensa superioridade de qualquer suporte. Sloan procura quebrar ideias pré-concebidas.
“Não sabia que as pessoas da tua idade ainda liam livros – retorque Penumbra. Arqueia uma sobrancelha. – Pensava que liam tudo nos telemóveis.
- Nem toda a gente. Há muitas pessoas que, enfim... pessoas que ainda gostam do cheiro dos livros.
- O cheiro! – repete Penumbra. – Uma pessoa sabe que está acabada quando os outros começam a falar sobre o cheiro.” Pág. 70
A conjugação de novas ferramentas de análise com “o saber antigo” permite aprofundar a leitura das obras clássicas. O leitor tem possibilidades de aceder a significados que seriam de mais difícil acesso. A obra, individual, é reconhecida como detentora de maior riqueza. A intertextualidade entre obras e autores é diagnosticada com celeridade. De outra forma, tal como Sloan aborda nesta história, demoraria séculos a concretizar. A utilização da informática na análise de textos permite a descoberta de diversas “chaves de leitura” essenciais no aprofundamento da fruição do texto pelo leitor.
Um exemplo real destas novas possibilidades veio ao conhecimento do público, quando a análise por computador de um livro veio a identificá-lo como sendo da autoria de J. K. Rowling, autora várias vezes referida no livro de Sloan.
“A Livraria Noite e Dia do Senhor Penumbra” tem as características necessárias para ser um êxito comercial:
- Culto com o respectivo Ser Supremo, apóstolo e rituais de entrada; salas e pessoas misteriosas, caves escuras, onde estão guardados livros codificados com o segredo da vida eterna; livreiros, informáticos, hackers...
Dan Brown emprestou a caneta e a receita a Robin Sloan. Este, por sua vez, adaptou os ingredientes e escreveu a aventura de Clay Jannon.
“A Livraria Noite e Dia do Senhor Penumbra” é uma aventura divertida, misteriosa, com problemas contemporâneos, e sem grandes ambições literárias.