Falará o Papa Francisco sobre os protestos na sua visita ao Rio de Janeiro?
Após um mês de protestos no Brasil, organizar a Jornada Mundial da Juventude tornou-se uma honra e uma enorme dor de cabeça para o Brasil.
"A figura do Papa Francisco vai unificar um pouco esses anseios. Por ser latino-americano, ele conhece bem a realidade social do Brasil, e inclusive nos seus discursos deve citar essa realidade e reconhecer as reivindicações", disse à Lusa o responsável pelas actividades culturais da jornada.
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"A figura do Papa Francisco vai unificar um pouco esses anseios. Por ser latino-americano, ele conhece bem a realidade social do Brasil, e inclusive nos seus discursos deve citar essa realidade e reconhecer as reivindicações", disse à Lusa o responsável pelas actividades culturais da jornada.
Antes, o porta-voz do Vaticano, o padre Federico Lombardi, tinha procurado manter a distância em relação às manifestações de Junho no Brasil. "Sabemos que há uma situação de manifestações nas últimas semanas no Brasil. Mas temos confiança que a cidade e as autoridades irão gerir a situação e vemos com total serenidade a situação. Não é um confronto com o Papa ou com a Igreja", tinha dito na quarta-feira, citado pelo jornal brasileiro O Estado de São Paulo.
Esta é a primeira viagem internacional do Sumo Pontífice desde que foi eleito. Os protestos contra a corrupção, contra o Mundial de futebol e por melhores condições na saúde, nos transportes e na educação são considerados o maior risco de segurança à visita do Papa Francisco.
Mas o organizador com quem a Lusa falou afasta a possibilidade de haver perturbações causadas pelos protestos populares. Pelo contrário, Gustavo Ribeiro acredita que as manifestações e a jornada partilham semelhanças, a começar pela força da juventude e a defesa de mais igualdade social. "A jornada está dentro desse contexto das manifestações, dos anseios políticos da população, e ela também mostra a importância da mobilização de jovens", salienta.
Ainda segundo Gustavo Ribeiro, muitos dos jovens católicos que participarão na jornada também integraram os protestos iniciados no mês passado. "Conheço pessoas que transitaram nos dois mundos, não são coisas antagónicas", afirma.
Desde o início das manifestações, em Junho, uma das principais preocupações do Governo brasileiro tem sido a garantia da segurança do Papa durante a jornada, marcada para entre 23 e 28 de Julho, no Rio de Janeiro. Espera-se que atraia entre 1,5 e dois milhões de peregrinos e movimente cerca de 500 milhões de reais (170 milhões de euros). Cerca de 65% dos 194 milhões de brasileiros definem-se como católicos.
Após o primeiro grande protesto, que reuniu mais de 100 mil pessoas no Rio de Janeiro, em 20 de Junho, a Presidente Dilma Rousseff reuniu-se com o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Raymundo Damasceno, para falar sobre o tema.
Em resposta, a CNBB decidiu não alterar o calendário da visita e lançou uma nota de apoio às manifestações pacíficas, a ressaltar a necessidade de se ouvir "o clamor que vem das ruas".
Na tentativa de se aproximar ainda mais dos jovens, o Vaticano transmitirá os principais eventos da Jornada Mundial da Juventude pelas redes sociais, ao vivo, com direito a indulgência para os fiéis que sigam as orações à distância.
De acordo com o decreto oficial, assinado pelo Papa Francisco, será concedido o perdão a todos os fiéis que seguirem "com devoção" a jornada, ainda que apenas "espiritualmente", acompanhando os ritos "através da televisão, da rádio ou dos novos meios de comunicação social".
Esta será a segunda vez que o evento decorre num país latino-americano, com o detalhe especial de que desta vez o Sumo Pontífice também é de um país do continente, neste caso a Argentina.
A Presidente argentina, Cristina Kirchner, foi convidada pela anfitriã, Dilma Rousseff, e terá confirmado a sua presença na missa de encerramento, no domingo, segundo o jornal argentino La Nación. Um grupo de jovens argentinos também é esperado para dar as boas-vindas ao conterrâneo Jorge Bergoglio.
Os eventos estarão concentrados no Rio de Janeiro, mas incluem ainda uma visita a Aparecida, em São Paulo, cidade onde, segundo a tradição católica, teve lugar a aparição de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. De acordo com os organizadores, a visita atenderá a um pedido feito pelo próprio Sumo Pontífice, que manifesta uma devoção pública por Maria.
No Rio de Janeiro, a agenda do Papa Francisco inclui um encontro com a Presidente Dilma Rousseff, no Palácio Guanabara, sede do Governo do Rio de Janeiro; e uma visita à favela recentemente pacificada de Varginha, no Complexo de Manguinhos, na zona norte da cidade.