Fundação Michael J. Fox atribui fundos a cientistas de Coimbra
No total, a equipa receberá 250 mil dólares (192 mil euros) para estudar o papel do sistema imunitário na doença de Parkinson.
“A intervenção do sistema imunitário, mais especificamente as implicações de mutações genéticas nos linfócitos B na doença de Parkinson está a ser estudada, pela primeira vez [a nível mundial, tanto quanto a equipa sabe], por investigadores da Universidade de Coimbra, através do Centro de Neurociências e Biologia Celular, da Faculdade de Medicina e do Centro Hospitalar e Universitário”, anunciou esta segunda-feira em comunicado a universidade.
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“A intervenção do sistema imunitário, mais especificamente as implicações de mutações genéticas nos linfócitos B na doença de Parkinson está a ser estudada, pela primeira vez [a nível mundial, tanto quanto a equipa sabe], por investigadores da Universidade de Coimbra, através do Centro de Neurociências e Biologia Celular, da Faculdade de Medicina e do Centro Hospitalar e Universitário”, anunciou esta segunda-feira em comunicado a universidade.
Os linfócitos B são células do sistema imunitário com uma dupla função: produzem anticorpos contra os agentes causadores de doenças e participam na regulação da resposta imunitária através da interacção com outras células. Mas quando sofrem mutações genéticas, as suas funções podem ser afectadas, passando os linfócitos B a ter um papel importante no agravamento da doença.
A equipa de cientistas está centrada no estudo de uma determinada mutação do gene LRRK2, envolvida na comunicação dos linfócitos B e com outras células, encontrada em doentes de Parkinson. É conhecida como a “mutação basca”, visto que foi identificada há vários anos em doentes oriundos do País Basco. Em Portugal, os doentes com o LRRK2 mutado – entre as três mutações possível neste gene – têm praticamente só a mutação basca, diz ao PÚBLICO a imunologista Margarida Carneiro, do Centro de Neurociências e Biologia Celular e que é a coordenadora do estudo.
Numa primeira fase, através da análise de amostras de sangue de doentes, com e sem a mutação (17 e 25, respectivamente), e de voluntários saudáveis (35), já se descobriu que “a mutação parece estimular a morte precoce dos linfócitos B, dificultando a sua comunicação com outras células do sistema imunitário”.
“Verificámos também que a mutação do gene faz com que os linfócitos B produzam anticorpos auto-reactivos contra uma proteína do sistema nervoso central – a alfa-sinucleína, proteína que ajuda na estabilização estrutural dos neurónios. O que torna as estruturas do sistema nervoso como alvos a abater”, afirma Margarida Carneiro, no comunicado.
Portanto, ao ser mutado, o gene LRRK2 – que comanda uma cascata de sinalizações nos linfócitos B – fica hiperactivo, enviando um excesso de sinais e provocando uma reacção desmedida em cadeia. Sabendo-se agora isto, a equipa vai tentar perceber como se processa este “curto-circuito”, com o “objectivo de encontrar uma forma de bloquear a sinalização em excesso e evitar a destruição indiscriminada de células do sistema nervoso”. É que, ao produzir demasiadas células auto-reactivas, o sistema imunitário fica desregulado. Os linfócitos B deixam de cumprir a sua missão e passam a contribuir para a destruição do cérebro.
Depois de um primeiro financiamento dado a este projecto em 2012, de 140 mil dólares, pela fundação criada pelo actor Michael J. Fox, que sofre da doença de Parkinson, a equipa portuguesa vai usar os 110 mil dólares agora atribuídos para mais nove meses de investigação e aumentar o número de pessoas estudadas (mais dez doentes com a mutação, outros dez sem a mutação e dez a 15 voluntários de controlo).
Ao compreender como tudo se passa, poder-se-á avançar para o desenvolvimento de terapias que destruam os linfócitos desregulados e, dessa forma, tentar desacelerar o avanço da doença de Parkinson, diz Margarida Carneiro.