José já viu Crystal Castles 45 vezes — e vai a caminho da 46.ª
Lá fora, chamam-lhe o fã n.º 1. José Sampaio atravessa fronteiras só para ver Alice Glass e Ethan Kath — até a tem tatuada na perna. Mas arrisca prever o futuro: Mais um álbum e terminam
Estava no Festival Paredes de Coura quando viu os Crystal Castles pela primeira vez. O primeiro álbum homónimo ainda não tinha sido lançado — só o EP com “Alice Practice”, o primeiro single de sempre, que acabou por ser incluído no álbum de 2008. Esse concerto de 2007 foi pequeno, “muito pequeno” (apenas “12 ou 13 minutos”), mas bastou para o bracarense José Sampaio começar a sua solitária peregrinação — solitária porque ninguém o consegue acompanhar. “Adorei, adorei”, repete.
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Estava no Festival Paredes de Coura quando viu os Crystal Castles pela primeira vez. O primeiro álbum homónimo ainda não tinha sido lançado — só o EP com “Alice Practice”, o primeiro single de sempre, que acabou por ser incluído no álbum de 2008. Esse concerto de 2007 foi pequeno, “muito pequeno” (apenas “12 ou 13 minutos”), mas bastou para o bracarense José Sampaio começar a sua solitária peregrinação — solitária porque ninguém o consegue acompanhar. “Adorei, adorei”, repete.
Já viu 45 concertos de Crystal Castles — este sábado, no Palco Heineken do Optimus Alive, será o 46.º. Sabe o que o espera (“eles tocam às 2h55, atrasam-se sempre e o recinto tem de fechar às 4h; vai ser muito curto”), mas não desmoraliza.
Em seis anos, já os seguiu até Espanha, França, Inglaterra, Alemanha, Holanda e Itália. Começou com 19 anos, tem agora 25. Estima já ter gasto quatro mil euros, entre viagens e bilhetes. Faz sacríficios: “Não posso sair tanto à noite, não posso ir comer fora, não vou ao cinema.” Tudo isto para quê? As razões são desarmantes de tão simples: “Adoro a música. Sempre que estou em baixo, ouço-os. Sinto-me bem ao ouvir a música deles.” Além disso, entre um concerto e outro, sempre viaja, conhece “novos sítios e novas pessoas”. “Aproveito tudo. Vejo a banda e novos países.” Não é por acaso que trabalha em Turismo.
Viaja sozinho e espera nas grades
Quando vai, vai sozinho. Não teme. Encontra sempre “alguém conhecido”, gente com quem travou conhecimento noutros concertos. É capaz de estar oito horas nas grades à espera do concerto. “Ouço música, leio qualquer coisa, espero.” Assim foi em Berlim. Temperatura: - 15ºC. “Foi mau, mas o concerto foi bom, apesar de terem cortado o som porque já tinha passado da hora de terminar.” Em França, apanhou um pontapé na cabeça no meio do moche. Foi parar à Cruz Vermelha, “completamente sozinho”, sabendo articular apenas algumas palavras de francês. “Foi quase tudo por gestos.”
Chamam-lhe o fã n.º1. José desvaloriza: “Eu só gosto da música deles.” Conhece outros como ele, mas não tanto. Um britânico que já viu os Crystal Castles 14 ou 15 vezes, outros que assistiram a 7 ou 8 actuações. A dedicação já lhe valeu dois encontros com o produtor Ethan Kath, uma das metades da banda. Cumprimentaram-se, trocaram algumas palavras. Foi-lhe prometido um poster autografado, que acabaria por receber no correio. Com a vocalista Alice Glass, inspiração para a tatuagem que está a fazer na perna (já lá vão 20 e tal horas de sessões), nunca teve contacto. Quer dizer, só se contarem as “patadas” que leva da explosiva canadiana durante os concertos — estar nas grades durante o moche também tem os seus contras. Gostava de a conhecer, mas, lamenta, “ela é muito protegida pelo ‘tour manager’”. De qualquer modo, não os procura muito: “Eles já estão cansados das 'tours', têm mais que fazer para ainda terem de lidar comigo.”
No quarto, tem o poster afixado, quatro t-shirts, os álbuns todos em CD e em vinil. Ouve outras coisas também — Queens of the Stone Age, Efterklang, Arcade Fire. Mas não tanto. O melhor concerto? Brixton, Londres, 2011. “Estava muita gente, o sítio era muito bonito e foi num final de 'tour'. Tocaram mais músicas.” O pior? “Um festival em Madrid com 41 graus. Estive lá 13 horas e eles só tocaram sete músicas. O som estava péssimo.” A música preferida? “Birds”, que nunca ouviu ao vivo. Em concerto, “Doe Deer”, 1:36 minutos de "intensidade".
Mais um álbum e os terminam
Para o concerto no Optimus Alive, não está tremendamente ansioso. Só nesta digressão, dedicada em especial ao álbum “(III)”, lançado em 2012, já os viu quatro vezes: Porto, Lisboa, Espanha e Paris. Sabe que “setlist” esperar, mas também só vai ao festival por causa deles. Às vezes, pode ser aborrrecido (“na 'tour' de 2010, vi sete concertos iguaizinhos, foi um pouco chato”), mas ainda espera voltar a vê-los em Novembro ou Dezembro, quando recomeçarem uma nova digressão.
Tem noção das críticas que são feitas à banda, em especial ao vivo. “Algumas têm razão”, diz, dando como exemplo um concerto em Madrid em que “o estado” de Alice Glass era tal que “quase não conseguia cantar”. Mas outras “não têm grande lógica”. A piada é essa também: “É assim que eles são, doidos.”
Dos primeiros anos até agora, José nota que o som dos Crystal Castles evoluiu bastante, está “mais polido”. A relação entre Alice e Ethan é que nem por isso — ela “anda sempre com o nariz no ar”, ele “fica um pouco à parte”, tal como o baterista Christopher Chartrand, que os acompanha ao vivo. Já a viu atirar cabos, já o ouviu dizer, num dos encontros, que “só tocam o que ela quer, não podem escolher nada”. “Cá para mim”, prevê, “eles fazem o quarto álbum, como está no contrato, e terminam”. Três já estão cá fora. “Acredita”, enfatiza, “aquilo está mesmo mau”. E tu, José? O que farás? “A cara da banda é a Alice, mas quem faz as músicas é o Ethan. Acho que ele pode criar algo muito melhor.” E a tatuagem? “Possivelmente vou-me arrepender, mas até agora...”