Jorge Caiado, rapaz de house profundo, cósmico e ácido

Com apenas 24 anos, continua a desafiar o house como ninguém. DJ e produtor actua no Coreto, do Optimus Alive, a 14 de Julho

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O dj e produtor Jorge Caiado tem 24 anos

No primeiro dia do ano, foi eleito uma das cinco apostas musicais para 2013. Meses depois, Jorge Caiado continua a desafiar o house como ninguém, assumindo influências como Vinicius de Moraes, J Dilla, Marvin Gaye, Herbie Hancock, LCD Soundsystem, Chez Damier, Kerri Chandler, Floating Points, entre outros. Sim, e faz música electrónica. Nascido no Brasil, Jorge Lima viveu e cresceu na Póvoa de Varzim. Caiado é um nome de família que não chegou à sua geração, mas que adoptou quando começou a assinar o seus primeiros trabalhos. Hoje, vive em Lisboa, há já três anos. Com apenas 24 anos, é um dos nomes cimeiros da Groovement, pela qual vai editar o sucessor de "Beyond The Atlantic" (2012) no final deste ano, como nos contou por e-mail. A caminho está também um disco a meias lançado pela Compound London Records. Antes, passa pelo Optimus Alive no último dia do festival. Para apontar: 14 de Julho, 22h00, Coreto do Ginga Beat.

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No primeiro dia do ano, foi eleito uma das cinco apostas musicais para 2013. Meses depois, Jorge Caiado continua a desafiar o house como ninguém, assumindo influências como Vinicius de Moraes, J Dilla, Marvin Gaye, Herbie Hancock, LCD Soundsystem, Chez Damier, Kerri Chandler, Floating Points, entre outros. Sim, e faz música electrónica. Nascido no Brasil, Jorge Lima viveu e cresceu na Póvoa de Varzim. Caiado é um nome de família que não chegou à sua geração, mas que adoptou quando começou a assinar o seus primeiros trabalhos. Hoje, vive em Lisboa, há já três anos. Com apenas 24 anos, é um dos nomes cimeiros da Groovement, pela qual vai editar o sucessor de "Beyond The Atlantic" (2012) no final deste ano, como nos contou por e-mail. A caminho está também um disco a meias lançado pela Compound London Records. Antes, passa pelo Optimus Alive no último dia do festival. Para apontar: 14 de Julho, 22h00, Coreto do Ginga Beat.

Como começaste a fazer música? 

Comecei a fazer música perto dos meus 16 anos, depois de ter começado a interessar-me muito pela música electrónica de dança, interesse esse que surgiu depois das primeiras saídas à noite e do primeiro contacto que tive com este tipo de música através de DJ locais. Na altura foi o house, na sua vertente mais calma e profunda, que mais me cativou e daí arranquei com os primeiros "rascunhos". Na verdade, estive durante toda a minha infância para me inscrever, vezes sem conta, na escola de música, mas acabou por nunca acontecer. Quando dei conta já não havia volta a dar, senti-me de tal forma ligado, apaixonado e aficcionado pela música que decidi, já numa fase tardia, no último ano do liceu, dedicar todo o meu tempo a aprender e a ouvir música para conseguir entrar na Escola Superior de Música do Porto, onde iria conseguir aprofundar muito mais os meus conhecimentos técnicos ligados à produção e gravação de música.

  

Vives apenas da música?

Sim, desde que saí da faculdade — e já na altura pagava parte das minhas contas com base nos "gigs" que tinha — que vivo apenas da música. Não é fácil: regra geral os "gigs" são mal pagos e nem sempre há "gigs" suficientes para amealhar o montante necessário para pagar as contas base do mês. Em alturas mais complicadas já tive que recorrer a "part-times" para conseguir completar as contas mensais.

O que estás a fazer actualmente? 

Neste momento estou a passar por um período muito intenso de estúdio. Estou a finalizar uma série de discos e remisturas, sendo que algum desse material ainda irá ser publicado este ano e o restante em 2014. Para além de andar a compor e produzir para mim, tenho estado a trabalhar imenso com outros produtores e músicos, na sua maioria para a editora nacional da qual faço parte — a Groovement — onde ajudo novos artistas a finalizar os seus primeiros discos ou outros amigos e produtores a misturar ou co-produzir as suas próximas edições. O meu próximo disco a sair será a meias com o Ernie, um produtor espanhol de Madrid, já bastante conhecido para os seguidores do deep house, que será editado pela Compound London Records. Este disco surgiu de uma amizade espontânea que criei com um amante de música electrónica, através do Facebook, que numa fase inicial convidou-me para gravar um podcast para a sua rubrica mensal. Mais à frente decidiu arrancar com a editora e pediu-me que fizesse parte do primeiro disco, pois adorava o meu trabalho e gostava imenso que eu pudesse integrar a primeira edição. O disco vai ter dois temas meus, sendo na verdade apenas um original com duas versões diferentes que se chama "No More Coffee Talk".

Para quando o sucessor de "Beyond The Atlantic"? 

O sucessor de "Beyond The Atlantic" está mesmo aí à porta, será editado no último trimestre deste ano na Groovement e irá contar com três originais e uma remistura ainda por anunciar! A procura do sucessor não foi muito complicada, pois a selecção dos temas que irão fazer parte deste disco foi natural. Eu e o Rui Torrinha ("label manager" da Groovement) temos uma relação próxima e conversamos imenso. Chegar a um consenso foi rápido. Assim um pouco no abstracto, diria que a viagem por terrenos mais profundos e melancólicos vai continuar dando seguimento ao meu primeiro disco de originais. Só que, aqui, com um "cunho" mais "à lá Groovement", onde as doses de elementos cósmicos e ácidos vão estar bem presentes.

Qual é o panorama do house em Portugal?

Neste momento, sinto que as coisas começam a agitar por aqui. Pelo menos, começa a vir à tona mais música de malta nova do que há uns anos. Começa-se a ver também muita malta a vingar lá fora, enquanto que cá dentro ninguém os conhece ou só dão valor mais tarde, depois de terem sido "aceites/apadrinhados" por alguma entidade (editora ou dj) ou média estrangeiro. Vejo tudo isto com bons olhos, acho que há espaço para todos trabalharem naquilo que querem e em que acreditam. Se todos soubermos aceitar bem as diferenças uns dos outros, isto torna-se-á muito mais interessante!

O que é que esperas desta actuação no Optimus Alive? Que lugar é que a tua música pode ocupar num festival de Verão? 

Para esta actuação, espero poder mostrar algum do meu trabalho ainda por editar a um público maior e que provavelmente desconhece o meu percurso. Penso que a questão da música electrónica ocupar um lugar cada vez mais importante nos festivais de música, que inicialmente nem sequer eram para aí direccionados, dá-se pela massificação e comercialização da música de dança nos dias que correm. Acho que o facto de haver sempre um palco de música electrónica associado a estes festivais de Verão mostra o quão importante a música de dança é nos dias de hoje.