Cavaco “deu estalo à classe política”, diz Marcelo Rebelo de Sousa

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Marcelo deverá falar sobre a CGD na próxima quinta-feira Nuno Ferreira Santos

"Foi, à sua maneira, um estalo grande na classe política toda, Governo e oposição. Um estalo no PC e no BE ao dizer que não há eleições, no Governo ao não dizer claramente que esta é a solução que dura até 2015 e no PS ao não dar eleições, mas que talvez dê em 2014, sabendo que isso divide o PS", disse.

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"Foi, à sua maneira, um estalo grande na classe política toda, Governo e oposição. Um estalo no PC e no BE ao dizer que não há eleições, no Governo ao não dizer claramente que esta é a solução que dura até 2015 e no PS ao não dar eleições, mas que talvez dê em 2014, sabendo que isso divide o PS", disse.

O antigo líder social-democrata, à margem de uma apresentação de um livro sobre direito europeu, em Lisboa, adiantou ainda os nomes do governador do Banco de Portugal e do presidente do Conselho Económico e Social, respectivamente Carlos Costa e Silva Peneda, como potenciais figuras tutelares para o eventual acordo tripartido sugerido por Cavaco Silva.

"O Presidente achou que tinha força para dar esses estalos construtivos, esperando que os partidos pegassem. Acho que os partidos devem devolver a bola. Vamos negociar, mas vamos esclarecer dois ou três pontos que estão por esclarecer", continuou.

O jurista considerou que a atitude do chefe de Estado foi "uma jogada de risco no sentido de que a crise não acabou", podendo adensar-se, "se, de repente, os partidos mantiverem a negociação de forma muito mais longa do que o Presidente pensava".

"Não é de risco no sentido de que o Presidente tentava encontrar uma fórmula que fosse a linha intermédia entre tudo o que ouviu. Foi a procura do menor risco possível no imediato. Pode ser um risco a prazo", alertou.

Para Rebelo de Sousa, "o que há de novo é a ideia de que o Presidente está aberto para que nesse acordo entre a convocação de eleições a partir de 30 de Junho (de 2014)".

"O que é uma ironia do destino, mais ou menos na mesma altura em que estamos hoje, o que daria eleições em Setembro e Orçamento do Estado em Março de 2015", observou, acrescentando que cabe às forças políticas avaliarem este "meio termo", o "meio da estrada" no qual Cavaco Silva as colocou.

O professor de Direito disse que o Presidente da República "quis, intencionalmente, ser vago naquilo que propôs, porque é uma proposta destinada a seduzir os três destinatários"

"Tem de ter contradições porque é a mesma coisa que seduzir senhorios e inquilinos", comparou, adiantando que, se fosse ainda líder partidário, "reagiria com um ‘nim' e negociava".

Rebelo de Sousa analisou ainda que "se nenhum (dos partidos) comprar (a proposta)", Cavaco Silva poderá sempre dirigir-se aos portugueses e dizer que "a culpa" não é sua e que tentou o melhor, apesar do "custo de não ter fechado a crise".