Karaté não é desporto! (ou o elogio da arte marcial)

O Karaté não é uma competição com os outros mas sim uma luta interior para fazermos cada vez melhor, sermos cada vez melhores

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Dinuka Liyanawatte/Reuters

Karaté é uma arte marcial. Esta é a frase que precisa ser repetida: está tudo lá! Marcial, porque diz respeito, à guerra, ao combate (e, portanto, tem que ser eficaz em situação real). Arte, porque diz respeito à técnica, à disciplina, à filosofia, à aprendizagem ao longo da vida, à história, à cultura (e sua transmissão intergeracional) e à beleza. O Karaté resulta de um processo de transmissão cultural que atravessou as civilizações orientais durante séculos para se consolidar no Japão nos finais do séc. XIX. Karaté-do significa a “via das mãos vazias”. Uma via não é um desporto, um jogo. É uma filosofia de vida, um caminho que decidimos percorrer e que nos ajuda física e mentalmente a sermos melhores pessoas. O fim último do Karaté é o desenvolvimento humano/pessoal através da prática continuada (ao longo de toda a vida) de um conjunto de procedimentos que foram transmitidos, de mestres para discípulos, ao longo dos tempos. Busca-se a harmonia pessoal através da interligação corpo-mente que a prática do Karaté-do permite. O Karaté não é uma competição com os outros mas sim uma luta interior para fazermos cada vez melhor, sermos cada vez melhores.

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Karaté é uma arte marcial. Esta é a frase que precisa ser repetida: está tudo lá! Marcial, porque diz respeito, à guerra, ao combate (e, portanto, tem que ser eficaz em situação real). Arte, porque diz respeito à técnica, à disciplina, à filosofia, à aprendizagem ao longo da vida, à história, à cultura (e sua transmissão intergeracional) e à beleza. O Karaté resulta de um processo de transmissão cultural que atravessou as civilizações orientais durante séculos para se consolidar no Japão nos finais do séc. XIX. Karaté-do significa a “via das mãos vazias”. Uma via não é um desporto, um jogo. É uma filosofia de vida, um caminho que decidimos percorrer e que nos ajuda física e mentalmente a sermos melhores pessoas. O fim último do Karaté é o desenvolvimento humano/pessoal através da prática continuada (ao longo de toda a vida) de um conjunto de procedimentos que foram transmitidos, de mestres para discípulos, ao longo dos tempos. Busca-se a harmonia pessoal através da interligação corpo-mente que a prática do Karaté-do permite. O Karaté não é uma competição com os outros mas sim uma luta interior para fazermos cada vez melhor, sermos cada vez melhores.

Por isso não podemos olhar para o Karaté unicamente como um desporto. É que o Karaté desportivo corre o risco de distorcer o treino e até a própria competição, com o grande objectivo de gerar um espectáculo que seja rentável. A verdade é que têm vindo a ser alteradas as regras da competição, quer dos katas (a execução coreografada de um conjunto de técnicas pré-definidas que simulam um combate contra múltiplos adversários), quer dos combates, muitas vezes não indo de encontro à tradição e ao verdadeiro significado dessas actividades. Nesse desporto, os mestres passam a ser treinadores, os discípulos, atletas, e o objectivo último do treino passa a ser o ser-se campeão. Com isso, o esforço, empenho e dedicação desses atletas corre o risco de não ser aproveitado para o desenvolvimento do Karaté-do…

Muitos desejam até tornar o Karaté um desporto olímpico. Temo que isso seja mais um passo decisivo para se destruir o Karaté-do, acabando com os seus estilos diversos, com a sua pluralidade no treino (onde se deve combinar a técnica de base, o combate, os katas e a defesa pessoal), e com o seu verdadeiro objectivo: um crescimento humano harmonioso de longo prazo.

Infelizmente, o Estado português reconhece o Karaté apenas como um desporto (mas houve tempos em que o reconhecia como arte marcial) e por isso trata a Federação Nacional de Karaté – Portugal (FNK-P) como qualquer outra federação desportiva, aplicando-lhe o mesmo tipo de regulamentos e financiando-a na lógica de que esta vai tratar de organizar o quadro competitivo do Karaté nacional. A própria FNK-P credita o Karaté como um desporto e tem como grande objectivo o olimpismo. Mas o Karaté olímpico corre o risco de ser um mero jogo de esgrima (sem espadas) entre os combatentes e os katas uma mera exibição ginástica. Não sonho isso para o Karaté…

Pratico Karaté Shotokan desde os seis anos de idade e tive o privilégio de me terem ensinado Karaté-do. Desde muito cedo tive estágios com mestres japoneses que, ano após ano, repetiram o verdadeiro sentido desta arte marcial. Quando hoje, já com responsabilidades de instrução, ensino Karaté-do, cumpro o meu dever e transmito aquilo que os mestres me ensinaram.

Quando decidirem praticar Karaté (ou pôr os vossos filhos a praticar) não se esqueçam duma coisa: o Karaté desportivo é tão benéfico para as pessoas como qualquer outro desporto… Se quiserem algo que vá para além duma prática desportiva devem procurar organizações que mantenham a prática de Karaté-do. Procurem associações que tenham estágios regulares com mestres japoneses e onde a competição seja encarada como um mero acessório (e não o centro) da prática do Karaté.

No fim do dia, a pergunta que o karateca tem que fazer é esta: imagina-se a continuar a praticar Karaté mesmo que não existam competições, graduações ou exames?

Crónica substituída a pedido do autor (18/07/2013)