ONU quer ter acesso ao que o Vaticano sabe sobre pedofilia
Comité para a Protecção das Crianças pede informações sobre encobrimento de casos e assistência prestada pela Igreja às vítimas
O Comité para a Protecção das Crianças, que regula a aplicação da Convenção dos Direitos das Crianças da ONU, quer saber tudo o que o Vaticano fez ou deixou de fazer para punir ou denunciar os casos de que tinha conhecimento.
“Tendo em conta que a Santa Sé reconheceu casos de violência sexual contra crianças cometidos por membros do clero em numerosos países”, o comité pede “informações detalhadas sobre todos estes casos”. O Vaticano tem lugar de observador permanente da ONU e é signatário da Convenção dos Direitos das Crianças. Como qualquer outro país, isso faz com que possa ser chamado a responder perante os peritos da ONU.
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O Comité para a Protecção das Crianças, que regula a aplicação da Convenção dos Direitos das Crianças da ONU, quer saber tudo o que o Vaticano fez ou deixou de fazer para punir ou denunciar os casos de que tinha conhecimento.
“Tendo em conta que a Santa Sé reconheceu casos de violência sexual contra crianças cometidos por membros do clero em numerosos países”, o comité pede “informações detalhadas sobre todos estes casos”. O Vaticano tem lugar de observador permanente da ONU e é signatário da Convenção dos Direitos das Crianças. Como qualquer outro país, isso faz com que possa ser chamado a responder perante os peritos da ONU.
A informação pedida refere-se aos casos conhecidos desde Novembro de 1995, data da última vez em que o Vaticano foi chamado a dar explicações sobre o tema. O comité quer saber se a denúncia de suspeitas de abusos era obrigatória, se houve “responsáveis por crimes sexuais” que tenham permanecido em contacto com crianças, que acções legais tiveram lugar contra os suspeitos, que tipo de apoio foi oferecido às vítimas e quantas receberam “indemnizações financeiras, apoio psicológico e assistência à reintegração social”.
Os peritos querem informações sobre casos onde os padres foram transferidos de paróquia: “Se houve instruções para não denunciar os abusos e de que nível da hierarquia vieram as instruções”, e “se houve crianças silenciadas para minimizar o risco de divulgação pública”.
Apesar da mudança de discurso — Bento XVI pediu perdão às vítimas e o seu sucessor, Francisco, defendeu que o Vaticano tem de “agir de forma decisiva, promovendo todas as medidas para ajudar os que sofreram e garantir que os procedimentos necessários são desencadeados contra os culpados” —, os grupos de vítimas duvidam que a própria Igreja dê os passos necessários para impedir abusos. “Estamos a lidar com uma monarquia global com poucos controlos ao seu poder”, disse David Clohessy, director da Survivors Network of those Abuse by Priests dos EUA, antes de um encontro no comité da ONU. Para Clohessy, tudo depende da vontade individual dos bispos responsáveis pelas dioceses. “Por isso é que nos temos virado para as instituições internacionais.”
“Se a Santa Sé revelar o que sabe isso vai ser um embaraço, mas pode assinalar um ponto de viragem”, escreve no site da BBC John McManus, especialista da emissora britânica em questões religiosas”. “O Papa Francisco diz que os culpados de abusos devem ser punidos. Isto pode ser a sua oportunidade de mostrar ao mundo que está a falar a sério.”