Portas recusou perguntar quem ia no avião de Morales para não “importar” Snowden
Ministro dos Negócios Estrangeiros explicou incidente no Parlamento.
“O problema Snowden não é do Estado português e não vejo vantagem em tê-lo. A soberania da Bolívia foi respeitada”, disse Paulo Portas nesta terça-feira, na comissão parlamentar de Negócios Estrangeiros. O ministro justificou assim a razão pela qual o Estado português não perguntou quem seguia a bordo do avião do Presidente da Bolívia.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
“O problema Snowden não é do Estado português e não vejo vantagem em tê-lo. A soberania da Bolívia foi respeitada”, disse Paulo Portas nesta terça-feira, na comissão parlamentar de Negócios Estrangeiros. O ministro justificou assim a razão pela qual o Estado português não perguntou quem seguia a bordo do avião do Presidente da Bolívia.
Bernardino Soares, líder da bancada do PCP, que pediu a audição do ministro sobre este incidente, não se mostrou convencido com as explicações. “Disse que não queria importar o problema Snowden, isso não é uma consideração técnica, é política. Foi evitar trazer o Snowden, mas então assumam isso”, rebateu o deputado.
Das palavras de Portas, Bernardino Soares concluiu que a atitude do ministro, ao não pretender imiscuir-se no problema do ex-espião, “significa uma colocação de Portugal ao lado do cerco dos Estados Unidos ao senhor Snowden”.
Na resposta, Portas justificou a atitude do Estado português como “cautela” para não adoptar um problema que Portugal “não criou e que não vai resolver”.
Paulo Portas garantiu aos deputados que a autorização para o sobrevoo “foi dada, e por escrito, com 24 horas de antecedência”, respeitando “o plano de voo aprovado” e dando “indicações atempadamente”.
O chefe da diplomacia recusou ainda a ideia de que Portugal tenha violado qualquer lei ou convenção internacional ao apenas autorizar o sobrevoo do avião no espaço aéreo português e recusar uma escala.
Os partidos da oposição questionaram o ministro sobre as consequências da decisão nas relações com os países da América Latina, mas Paulo Portas minimizou o impacto tendo em conta as reduzidas relações comerciais mantidas com a Bolívia. O PCP contestou esta leitura e insistiu em saber quais as consequências para as relações com a América Latina. Na intervenção inicial, Paulo Portas já tinha declarado: “A Bolívia é um país amigo e a América Latina também.”
Da parte do PS ouviram-se duas intervenções com nuances diferentes. Maria de Belém usou a ironia e defendeu que, se a Bolívia não tem de se ofender com a decisão de Portugal, qual a razão de se queimarem bandeiras portuguesas. Nesse sentido, deveria ser a Bolívia a pedir desculpas a Portugal. Já a deputada socialista Ana Paula Vitorino sustentou que Portugal deveria mesmo pedir desculpas a La Paz.