Papa Francisco foi a Lampedusa "chorar os mortos que ninguém chora"

O Papa que colocou os pobres no centro da sua missão visitou nesta segunda-feira a ilha que serve de porto de abrigo a milhares de imigrantes. Pediu um "despertar das consciências" para combater a "globalização da indiferença".

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O Sumo Pontífice quis manter a sobriedade dos actos para “chorar os mortos” dos naufrágios de embarcações que transportam imigrantes do Médio Oriente e Norte de África os mortos que ninguém chora, disse. E para tal, fez-se acompanhar apenas dos seus secretários particulares, dos seus guarda-costas e do porta-voz do Vaticano Federico Lombardi, nota a AFP, e sem responsáveis políticos num barco que percorreu parte da costa até à Porta da Europa, monumento erguido em memória de todas as vítimas de naufrágios.

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O Sumo Pontífice quis manter a sobriedade dos actos para “chorar os mortos” dos naufrágios de embarcações que transportam imigrantes do Médio Oriente e Norte de África os mortos que ninguém chora, disse. E para tal, fez-se acompanhar apenas dos seus secretários particulares, dos seus guarda-costas e do porta-voz do Vaticano Federico Lombardi, nota a AFP, e sem responsáveis políticos num barco que percorreu parte da costa até à Porta da Europa, monumento erguido em memória de todas as vítimas de naufrágios.

O Papa lançou ao mar uma coroa de crisântemos (brancos e amarelos, cores do Vaticano) antes de se recolher em silêncio. Depois, saudou a multidão que o esperava no cais enquanto os navios ao largo da ilha faziam ressoar as suas sirenes em sinal de luto pelos mortos, descreve a AFP.

O barco que usou é o mesmo que, desde 2005, socorreu 30 mil pessoas apanhadas em naufrágios na travessia do Mediterrâneo. Também para celebrar uma missa, usou um barco que em tempos naufragou, como altar. “Os mortos no mar são como um espinho no coração”, disse frente a habitantes da ilha e imigrantes.

O Papa Francisco quis, com esta visita, sensibilizar a ilha de 6000 habitantes e o país para a necessidade de acolher essas pessoas e garantir os seus direitos. “Tende a coragem de acolher aqueles que procuram uma vida melhor”, pediu, ao mesmo tempo que elogiou Lampedusa como "exemplo para todo o mundo" precisamente por ter "a coragem de acolher" essas pessoas.

Apelou a um despertar das consciências para contrariar a “indiferença” relativamente aos imigrantes. "Perdemos o sentido da responsabilidade fraterna e esquecemo-nos de como chorar os mortos no mar”, lamentou. “Ninguém chora estes mortos", criticando "os traficantes" que "exploram a pobreza dos outros."

“Oremos pelos que hoje não estão aqui”, disse o Papa a um pequeno grupo de imigrantes acabados de chegar, no domingo, a este primeiro porto seguro para milhares de pessoas que tentam chegar à Europa. “Fugimos dos nossos países por motivos políticos e económicos. Pedimos a ajuda de Deus depois dos nossos longos sofrimentos”, acrescentou.

A escolha de Lampedusa para a primeira deslocação fora de Roma é altamente simbólica para um Papa que colocou os pobres e os excluídos no centro do seu pontificado e lançou um apelo à Igreja para que regresse à sua missão de os servir, nota a Reuters, acrescentando que esta viagem coincide com o início do Verão quando se intensificam as travessias. “O resto da Itália e a Europa têm de ajudar-nos”, disse à AFP a presidente da câmara de Lampedusa, Giusi Nicolini.

A ilha italiana do Mediterrâneo, entre a Sicília e a costa da Tunísia e da Líbia, é uma das principais portas de entrada para a União Europeia, juntamente com a fronteira entre a Grécia e Turquia. Desde Janeiro, 4000 imigrantes chegaram já à ilha  esse número é três vezes maior do que os do ano passado, segundo a AFP. 2011, com as Primaveras Árabes, foi particularmente movimentado. Nesse ano, cerca de 50 mil imigrantes e refugiados desembarcaram em Lampedusa, metade dos quais vindos da Líbia e da Tunísia, cuja costa fica a pouco mais de 100 quilómetros da ilha.

Muitos atravessam em condições precárias e perigosas. De acordo com números das Nações Unidas, referidos pela Reuters,  desde o início do ano, 40 terão morrido na travessia entre a Tunísia e a Itália, um número menor que em 2012 quando houve registo de quase 500 mortos ou desaparecidos.