Mais de 40 mortos em disparos contra manifestação pró-Morsi
Incidente, o mais grave das últimas semanas, aconteceu durante manifestação pela libertação do Presidente deposto do Egipto. Irmandade Muçulmana lança apelo à "revolta" contra os militares.
Fontes médicas citadas pela agência Reuters dão conta de pelo menos 42 mortos e mais de 300 feridos. Há relatos de manifestantes a tentarem reanimar feridos no meio da rua e de corredores de hospitais manchados com o sangue das vítimas.
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Fontes médicas citadas pela agência Reuters dão conta de pelo menos 42 mortos e mais de 300 feridos. Há relatos de manifestantes a tentarem reanimar feridos no meio da rua e de corredores de hospitais manchados com o sangue das vítimas.
A Irmandade Muçulmana, o movimento de que Morsi é dirigente, assegura que os seus apoiantes, concentrados há dias junto ao edíficio da guarda, estavam a fazer as orações da manhã quando os militares abriram fogo na sua direcção.
A versão do Exército egípcio é diferente, assegurando que um oficial foi morto e 40 soldados ficaram feridos depois de “um grupo terrorista” ter tentado invadir o edifício onde Morsi estará detido desde que foi deposto pelos militares, na quarta-feira passada.
Na sequência dos confrontos, o Partido Justiça e Liberdade – a ala política da Irmandade Muçulmana – apelou, num comunicado, à "revolta do grande povo do Egipto contra aqueles que estão a tentar roubar a sua revolução com tanques”. Na nota, citada pela AFP, o partido pede à “comunidade internacional, aos grupos internacionais e a todos os povos livres do mundo que intervenham para impedir novos massacres e (…) o surgimento de uma nova Síria no mundo árabe”.
Numa segunda comunicação, através da sua página na rede social Facebook, o movimento islamista acusa o chefe do Estado-Maior egípcio, o general Abdel Fattah al-Sisi, por este "crime horrível" e acusa-o de querer arrastar o Egipto "para o mesmo destino da Síria", país onde a revolta contra o Presidente Bashar al-Assad deu lugar a uma guerra civil que, em dois anos, terá provocado mais de cem mil mortos.
Numa tentativa de apaziguar a tensão, o juiz Adly al-Mansour, nomeado pelos militares para substituir Morsi, disse "lamentar profundamente" o incidente e anunciou a criação de um comité judicial para investigar o sucedido. O Presidente interino dá, no entanto, crédito à versão de que os disparos resultaram de uma tentativa de assalto ao edifício da guarda e pede aos egípcios para não se aproximaram de edifícios militares e "outras instalações vitais".
Já depois do incidente, um alto responsável da segurança egípcia anunciou o encerramento da sede da ala política da Irmandade, dizendo que foram encontrados no local "líquidos inflamáveis, facas e armas". E uma fonte militar contou que dois soldados egípcios foram sequestrados, espancados e obrigados a fazer uma declaração a favor do Presidente aos altifalantes de uma das concentrações que reúne apoiantes de Morsi antes de terem sido libertados.
A televisão estatal mostrou também confrontos entre islamistas e militares numa das principais estradas que conduz ao aeroporto do Cairo, embora a situação no resto da cidade seja descrita como calma.
Perigosa escalada
O incidente é o mais grave desde o início da actual crise – que começou no final de Junho com enormes manifestações contra Morsi, que levariam o Exército a afastar o primeiro Presidente eleito do Egipto – e representa uma perigosa escalada para o país, ainda sem um governo e com um Presidente interino que não é reconhecido pela Irmandade, o maior movimento político egípcio.
Em resposta ao que considera ter sido um "massacre", o partido salafista egípcio al-Nour já anunciou a sua retirada das negociações para a nomeação do primeiro-ministro e formação de um Governo de transição. "Decidimos retirar-nos imediatamente das negociações em resposta ao massacre que ocorreu em frente à Guarda Republicana", escreveu no Twitter o porta-voz do partido, Nader Baqqar.
O dirigente da oposição liberal, Mohamed ElBaradei, que chegou a ser apontado como primeiro-ministro do Governo interino até que os salafistas vetaram o seu nome, pediu um "inquérito independente" aos incidentes desta manhã, assegurando que "a violência apenas gera violência e deve ser condenada com firmeza".
Da Turquia, um dos poucos países que condenou sem reticências a intervenção dos militares para derrubar Morsi, "condenou vivamente o massacre" no Cairo e pediu o regresso imediato à legitimidade democrática. "O Egipto representa a esperança para as aspirações crescentes de democracia no Médio Oriente e a Turquia será sempre solidária com o povo egípcio", declarou o chefe da diplomacia de Ancara, Ahmet Davutoglu.