Mais de 30 mortos no Egipto na "sexta-feira de rejeição"
Exército já conseguiu repor alguma calma depois de noite de confrontos.
De acordo com a edição online da BBC, as 12 mortes em Alexandria surgiram como retaliação à morte dos três manifestantes pró-Morsi. Fontes oficiais asseguram que o Exército conseguiu restabelecer alguma calma no Cairo, mas a violência durante o dia fez mais de 30 mortos e mais de 1000 feridos, segundo as fontes citadas pela BBC.
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De acordo com a edição online da BBC, as 12 mortes em Alexandria surgiram como retaliação à morte dos três manifestantes pró-Morsi. Fontes oficiais asseguram que o Exército conseguiu restabelecer alguma calma no Cairo, mas a violência durante o dia fez mais de 30 mortos e mais de 1000 feridos, segundo as fontes citadas pela BBC.
Mohamed Morsi foi deposto na quarta-feira por um golpe militar, tendo as Forças Armadas entregue o poder a Adly Mansour, o presidente do Tribunal Constitucional, que tomou posse como chefe de Estado interino até à realização de novas eleições nesta jovem democracia. A Constituição, de teor islamista, foi suspensa e os militares anunciaram que será redigida outra.
Devido a estas mudanças – que os militares e a população que os apoia negam ter sido um golpe militar –, a União Africana suspendeu o Egipto. "O Conselho [da UA] reitera a sua condenação a qualquer tomada do poder pela força. O afastamento do Presidente Morsi, democraticamente eleito, não obedece às disposições da Constituição egípcia e corresponde ao que é considerado uma mudança inconstitucional do poder", disse, citado pela Reuters, Admore Kambudzi, o secretário do Conselho de Paz e de Segurança da União Africana.
Mubarak caiu há 27 meses, Morsi chegou à presidência há 12: nos 15 meses anteriores foi o Conselho Supremo das Forças Armadas que esteve no poder. Tal como agora Morsi, os militares eram então acusados de só defenderem os seus interesses, tentando preservar privilégios e adiando as eleições. Ao mesmo tempo, foram responsáveis pelas mortes de manifestantes pacíficos.
O Presidente deposto foi o primeiro líder egípcio a ser eleito de forma livre. Agora, há informações que indicam que mais membros do seu movimento muçulmano foram detidos, nomeadamente o deputado Khairat el-Shater que terá sido preso na madrugada deste sábado no Cairo por suspeitas de incitação à violência.
Críticas à agenda de Morsi
Já o movimento cívico rebelde Tamarod, que tem estado na origem dos protestos anti-Morsi, justifica que o Presidente tinha vindo a seguir uma agenda islamista contrária às aspirações da maioria dos egípcios, falhando também a promessa de resolver os problemas económicos do país.
Os Estados Unidos já condenaram, entretanto, os actos de violência ocorridos na sexta-feira e apelaram a que todos os líderes contribuam para a reposição da tranquilidade. Aliás, durante a semana a deposição pela força do Presidente eleito do Egipto deixou Barack Obama face a uma questão difícil de diplomacia na relação com o Egipto: a de saber se esta acção foi um golpe, nota a Reuters. Se considerar formalmente que se tratou de um golpe, a lei norte-americana determina que a maioria da ajuda para este país aliado tem de ser suspensa. Em causa está principalmente o pacote de 1500 milhões de dólares (cerca de 1200 milhões de euros) que todos os anos os EUA enviam para o Cairo.
Por seu lado, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, também se mostrou preocupado com os confrontos, apelando a que todas as pessoas do país, incluindo as mulheres, colaborem numa transição pacífica.
As tensões vividas no país ganharam novos contornos na sexta-feira quando na capital do Egipto decorreu um protesto – a "Sexta-feira de rejeição" – contra a deposição de Mohamed Morsi da presidência.
A Coligação Nacional em Apoio da Legitimidade, liderada pela Irmandade, pediu ao povo egípcio para "tomar as ruas e mobilizar-se pacificamente” depois das orações de sexta-feira, as mais importantes da semana. O objectivo era dizer “‘não” às detenções militares, “não ao golpe militar”. Na quinta-feira foram detidos os principais líderes do movimento islamista e do seu Partido da Justiça e da Liberdade, criado em 2011, incluindo Morsi.
As Forças Armadas egípcias, num comunicado, dizem não ser responsáveis por estas mortes e negam ter disparado contra os manifestantes islamistas.