Afinal Murdoch não tem nada contra escutas telefónicas por jornalistas
Numa conversa privada que foi gravada e tornada pública, o presidente da News Corp. relativiza a gravidade das escutas telefónicas por jornalistas e do pagamento a polícias em troca de informações.
Nessa conversa com o staff do jornal The Sun, Murdoch não só contradiz tudo o que disse em Julho de 2011 na comissão de inquérito ao caso, quando prometeu cooperar com a investigação da polícia e condenou vivamente o pagamento de jornalistas a polícias em troca de notícias e a invasão da privacidade através das escutas ilegais, como demonstra um total desprezo pelo trabalho da polícia e um quase apreço por todos os jornalistas dos seus jornais, quer tenham ou não praticado esses actos.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Nessa conversa com o staff do jornal The Sun, Murdoch não só contradiz tudo o que disse em Julho de 2011 na comissão de inquérito ao caso, quando prometeu cooperar com a investigação da polícia e condenou vivamente o pagamento de jornalistas a polícias em troca de notícias e a invasão da privacidade através das escutas ilegais, como demonstra um total desprezo pelo trabalho da polícia e um quase apreço por todos os jornalistas dos seus jornais, quer tenham ou não praticado esses actos.
Em Julho de 2011, Murdoch dizia que era "errado" pagar a polícias para obter notícias e invadir a privacidade das pessoas com as escutas, que era imperativo fazer justiça e responsabilizar os culpados dessas práticas.
Agora, nesta gravação, o magnata australiano e presidente da News Corporation relativiza a gravidade da situação, denuncia “a lentidão inacreditável” da polícia e implicitamente garante apoio aos jornalistas que possam vir a ser condenados.
Durante a conversa de cerca de 45 minutos, Murdoch acusa repetidamente a polícia de "incompetência" e diz ser uma “vergonha” a forma como as brigadas, algumas com mais de dez elementos, perseguiram os jornalistas, indo às suas casas às seis da manhã, e em particular Rebekah Brooks, a ex-directora-executiva da News International, filial britânica do grupo, que era editora do News of the World durante o tempo em que o tablóide britânico escutou ilegalmente várias personalidades e vítimas de crimes. O jornal acabou por fechar por causa do escândalo. Rebekah Brooks teve também cargos de responsabilidade no tablóide The Sun, apanhado igualmente no escândalo.
"Uma prática com cem anos"
Rupert Murdoch, de 82 anos, dá a entender, sem o dizer explicitamente, que sabia dos subornos pagos à polícia, quando afirma que essa prática é centenária. “Estamos a falar de pagamentos a polícias em troca de notícias: é uma prática com cem anos, absolutamente. Vocês não a instigaram”, acrescentou em resposta a alguns jornalistas que se terão queixado de se sentirem bodes expiatórios.
Murdoch disse ainda que os pagamentos a agentes fazem parte da “cultura de Fleet Street”, referindo-se à rua de Londres onde antigamente estavam instalados quase todos os jornais britânicos e as principais agências.
A divulgação da conversa de Murdoch foi primeiro avançada pelo site de jornalismo de investigação britânico ExaroNews e depois divulgada pela estação de televisão Channel 4 nesta quarta-feira à noite, suscitando de imediato reacções. O deputado do Labour Tom Watson disse ao Guardian que Murdoch tem agora de ser interrogado pela polícia e que esta tem de esclarecer em que momento o comité de gestão e práticas do grupo News Corp. deixou de cooperar com a investigação.