ACP processa Rui Moreira após polémica em torno do Rali de Portugal
Rui Moreira acusou o presidente do Automóvel Clube de Portugal de "fazer contas à moda do ACP". Carlos Barbosa anuncia processo.
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“Atento o caracter gravemente atentatório da reputação e imagem do ACP e da respectiva actividade, será em tribunal que Rui Moreira explicará devidamente quais os reais motivos que levaram a referir-se da forma que o fez ao ACP e à sua gestão”, disse à Lusa a direcção daquela entidade, um dia depois de ter anunciado desistir do projecto de transferir para o Norte o Rali de Portugal devido ao “comportamento da Câmara do Porto e dos seus candidatos” às eleições autárquicas.
No domingo, em declarações ao Porto Canal, Moreira acusou o presidente do ACP, Carlos Barbosa, de “fazer contas à moda do ACP” depois de, no sábado, este se ter referido ao candidato independente e ao candidato do PS, Manuel Pizarro (a quem por lapso chamou Bizarro) como “um bando de garotos”. Hoje, contactado pelo PÚBLICO, recusou responder a esta ameaça do diroigente associativo. "Fica a falar sozinho", respondeu fonte da sua candidatura.
Uma semana depois de Luís Filipe Menezes ter garantido – e um dia depois "quase garantido" – o regresso do Rali de Portugal ao Norte, o ACP anunciou ontem que a prova vai, afinal, manter-se no Sul. E culpou por isso a Câmara do Porto e os adversários de Menezes noutra corrida, a da sucessão a Rui Rio na presidência da autarquia.
Rio, que ontem não reagiu a esta acusação, entendeu que, a meses de deixar o cargo, não podia comprometer a autarquia por três anos num valor de 900 mil euros - como pretendia o ACP liderado por Carlos Barbosa - para viabilizar o regresso do rali ao Norte. O autarca solicitou uma definição por parte dos candidatos e, num gesto seguido por Rui Moreira, pediu que Luís Filipe Menezes revelasse publicamente quais eram os patrocínios que alegava ter já angariado para suportar os custos do evento, de modo a que o executivo pudesse assinar o compromisso requerido pelo ACP.
Mas nem Menezes revelou os seus trunfos, nem os candidatos disseram o que Carlos Barbosa queria ouvir. E ontem, em comunicado, o ACP observou que a ausência de um compromisso por parte da Câmara do Porto e dos candidatos adversários de Menezes inviabilizou a pretensão de voltar a ter o rali no Norte. "A organização de uma prova desta envergadura e dos compromissos internacionais inerentes à mesma exigem responsabilidade, seriedade e vontade. Nenhum destes requisitos corresponde ao comportamento da Câmara do Porto e dos seus candidatos", acusa o ACP.
Menezes reagiu laconicamente através de uma nota que quase se limita a citar o comunicado do ACP, no qual o clube presidido por Carlos Barbosa isenta de culpas o candidato do PSD à Câmara do Porto. "Dos três candidatos com hipóteses de vitória, apenas o dr. Luis Filipe Menezes acatou todas as condições e formalizou por escrito a vontade de honrar o compromisso de ter o rali no Norte", lê-se.
A decisão de manter o rali no Sul já era esperada, pelo menos desde sábado. Perante a indefinição dos candidatos, Barbosa fez nesse dia, declarações violentas no Porto Canal, trocando até o apelido do socialista Manuel Pizarro. "O Bizarro, falei com ele e disse que sim senhora, que enviava a carta para o Rui Rio e não mandou carta nenhuma. E o Rui Moreira anda a fazer comunicados e a brincar como os garotos. Portanto, eles que tenham lá as campanhas políticas que quiserem. Eu não aceito ser o bobo da festa e ou querem o rali no Norte ou não querem o rali no Norte, mas que se decidam!".
No mesmo tom, acrescentou: "Neste momento, se me perguntar, [digo que] não vai haver rali no Norte, porque os candidatos andam a brincar, menos o Luís Filipe Menezes, que foi o único que escreveu e que disse. Os outros amuaram porque ele escreveu, os outros irritaram-se... É um bando de garotos".
As declarações de rui Moreira
No mesmo
canal, e durante as provas do circuito da Boavista - que pretende manter, caso vença as eleições -, Rui Moreira acusou Carlos Barbosa de ter sido grosseiro e garantiu nunca ter sido contactado pelo presidente do ACP, apesar de este, assinalou, ter o seu número de telefone. Para Moreira, a intervenção de Carlos Barbosa configurou "uma lamentável tentativa de interferência na campanha eleitoral do Porto" por parte de alguém que "seguramente a seguir ao almoço estava entusiasmado" e "que não compreende" a preocupação da sua candidatura com "as contas à moda do Porto".
Rui Moreira, que ontem não quis voltar ao assunto, acusou Barbosa de não ter a mesma preocupação, "por fazer contas à moda do ACP". O candidato independente vincou que aceitaria que a câmara assinasse agora um compromisso com o clube, se houvesse garantias de financiamento privado. "Isto é tipicamente uma interferência de alguém que vem de Lisboa e pensa que está a falar para a parvónia. Eu não sou [da parvónia]. Por isso vai ficar a falar sozinho", concluiu.
A Câmara do Porto, que se prepara para contratar serviços de reboques, também por 900 mil euros e por três anos (ver texto ao lado), não reagiu ao anúncio do ACP.
Já no campo socialista, reconhecendo os benefícios de um rali de Portugal na cidade mas concordando com a atitude defensiva de Rio face aos custos do evento, Manuel Pizarro estranha a decisão do ACP. E questiona: "Para que era necessário o nosso apoio? Então a questão não estava resolvida? Se o dinheiro dos privados anunciado pelo dr. Menezes era para o rali, e não para uma candidatura específica, pensei que já não havia problema", argumentou. Declarando, "sem falsa ironia", que não conhece Carlos Barbosa, Pizarro afirma que, "ao contrário" de Menezes, não anda à procura de apoios em Lisboa.