O general Custer no castelo de São Bento

O governo é um cadáver que se move.O seu líder é como o general Custer a defender o sétimo de Cavalaria até ao último homem. Que é ele.

Na declaração ao país em que anunciou, determinado, que tenciona manter-se firme no seu posto, Passos Coelho começou por dizer como tinha ficado surpreendido com a decisão de Paulo Portas.

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Na declaração ao país em que anunciou, determinado, que tenciona manter-se firme no seu posto, Passos Coelho começou por dizer como tinha ficado surpreendido com a decisão de Paulo Portas.

Como se esta crise no governo não tivesse começado um dia antes, com a demissão de Vítor Gaspar e a respectiva substituição por Maria Luís Albuquerque.

Como se Vítor Gaspar e a sua sucessora pura e simplesmente nunca tivessem existido.

Como se a consequência pudesse existir sem que existisse a causa.

Ao longo de toda a declaração, Passos Coelho não disse uma palavra de apreço ao ministro que saiu nem a uma nova ministra que ele próprio escolheu.

Ignorou os motivos de Vítor Gaspar – que pôs em causa a sua liderança – e não respaldou Maria Luís Albuquerque.

Por isso é plausível que o primeiro-ministro que reagiu à demissão daquele que foi o seu número 2 por 24 horas não esteja a conseguir ver bem a realidade.  E a realidade é que o primeiro-ministro, por mais que nos tenha querido convencer do contrário, está mortalmente fragilizado.
 

O seu governo é um cadáver que se move.

O seu líder é como o general Custer a defender o sétimo de Cavalaria até ao último homem. Que é ele.


Os índios que o cercam são Paulo Portas e o CDS. Declarando que não aceita a demissão do líder do CDS, quis transferir o ónus da crise para o outro lado do campo de batalha.

Ficou totalmente exposto e ficou definitivamente nas mãos de Paulo Portas (e de Cavaco).

Se Portas e o CDS saírem, o seu gesto desta terça-feira terá sido patético. Se Portas e o CDS recuarem (o que também seria patético), Passos ficaria nas mãos deles.

No espaço de 24 horas, um primeiro-ministro foi desautorizado duas vezes pelos dois número dois que se sucederam no seu governo.

Esqueceu-se de um. Está a mercê do outro.

O governo deixou de existir.

E o Presidente não pode deixar que o Little Big Horn do primeiro-ministro se transforme no Alcácer-Quibir do país. Que seria também o seu.

A propósito: alguém sabe se Paulo Portas tem o número de telemóvel do Presidente da República?