Ministro britânico do ambiente apela em prol dos OGM

Em discurso criticado por ambientalistas, governante diz que a Europa está a perder tempo em relação aos transgénicos.

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Incerteza sobre os efeitos do consumo humano de OGM limita expansão da cultura Foto: João Henriques

Num longo discurso exclusivamente dedicado ao tema, num dos principais institutos britânicos de investigação agrária, o Rothamsted Research, Paterson repetiu argumentos conhecidos em favor dos organismos geneticamente modificados (OGM) e disse que a Europa está a perder tempo.

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Num longo discurso exclusivamente dedicado ao tema, num dos principais institutos britânicos de investigação agrária, o Rothamsted Research, Paterson repetiu argumentos conhecidos em favor dos organismos geneticamente modificados (OGM) e disse que a Europa está a perder tempo.

O ministro mencionou estatísticas da OCDE e da ONU, de que será preciso aumentar a produção de alimentos em 60% nos próximos 40 anos. “Precisamos de novas tecnologias, entre elas os OGM”, afirmou.

Bem utilizados, os transgénicos “prometem formas efectivas de protecção e aumento das colheitas”, afirmou. “Têm também o potencial de reduzir o uso de fertilizantes e químicos, aumentando a eficiência na produção agrícola e reduzindo os danos após as colheitas”.

As culturas transgénicas continuam a expandir-se no mundo, com 170 milhões de hectares cultivados em 2012, em 28 países, segundo o Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações de Agro-biotecnologia. Mas quase 90% das plantações estão concentradas em cinco países: Estados Unidos (41%), Brasil (21%), Argentina (14%), Canadá (7%) e Índia (6%).

A União Europeia responde por menos de 1% das culturas, com apenas uma variedade de milho transgénico aprovada para cultivo. “Enquanto o resto do mundo está a avançar e a colher os benefícios das novas tecnologias, a Europa corre o risco de ficar para trás”, disse Patterson. “A utilização dos OGM pode ser tão transformadora como a primeira revolução agrícola”, completou.

O discurso foi prontamente criticado por algumas organizações. “Na verdade, os OGM são um estranho no ninho. Afastam e destróem os sistemas (...) de que precisamos para alimentar o mundo”, sustenta Peter Melchett, da Soil Association, uma organização britânica do sector da agricultura biológica.

Owen Paterson foi nomeado pelo primeiro-ministro David Cameron em Setembro de 2012, gerando um grande desconforto entre ambientalistas, devido a posições públicas sobre temas como as alterações climáticas, a caça à raposa e a exploração de gás de xisto.

“É difícil tomar lições de ciência de um céptico das alterações climáticas”, diz Doug Parr, cientista-chefe do Greenpeace no Reino Unido. “Paterson devia indagar-se sobre o que está a funcionar, ao invés de seguir cegamente a propaganda do agro-negócio”.

Parr recorda que na chamada Revolução Verde, que aumentou drasticamente a produção de alimentos no mundo a partir dos anos 1940, os cientistas criaram variedades de milho resistente à seca, sem recurso à manipulação genética, aumentando em 20 a 30% as colheitas.