Ainda há boas notícias
É uma pena que os agrilhoados pela falta de trabalho precisem de fugir para se libertar. E nem sempre a alegria está do lado de lá da fronteira. Mas quem não a busca não a alcança
Detesto profetas do apocalipse, daqueles que se encontram um pouco por todo o lado, seja em bancos de jardim ou em mesas de cafés esconsos de subúrbio, anunciando a quem queira ouvir que “isto está cada vez pior” e outras coisas que tais. Também não sou apologista do princípio jornalístico (algo primário, convenhamos) segundo o qual “bad news is good news”. Por isso, falo hoje de coisas boas, daquelas que dão um calorzinho simpático à alma (e aos seus sucedâneos correspondentes).
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Detesto profetas do apocalipse, daqueles que se encontram um pouco por todo o lado, seja em bancos de jardim ou em mesas de cafés esconsos de subúrbio, anunciando a quem queira ouvir que “isto está cada vez pior” e outras coisas que tais. Também não sou apologista do princípio jornalístico (algo primário, convenhamos) segundo o qual “bad news is good news”. Por isso, falo hoje de coisas boas, daquelas que dão um calorzinho simpático à alma (e aos seus sucedâneos correspondentes).
Pois então, assim seja: alvíssaras! Conheço um tipo que é magnífico no que se formou para fazer. Não o digo por ser um dos meus melhores amigos – digo-o por ser a mais genuína de todas as verdades. Vicissitudes da vida, o P (não lhe darei nome – ele sabe quem é, isso basta) esteve sem encontrar um lugarzinho numa qualquer empresa da área durante pouco mais de um ano. Ao longo de 13 meses, nada de nada. Nem sequer uma greta numa janela, quanto mais uma porta escancarada.
O P atreveu-se. Sem almofada nem rede que o pudessem suportar numa hipotética queda, pirou-se para Angola. Em busca de uma sorte melhor, sabendo que o que poderia encontrar seria, à partida, apenas e só isso mesmo: sorte. Deambulou durante meia dúzia de dias, abriu armários e gavetas, levantou mantas e ainda deu uma espreitadela ao que estava debaixo da cama. Munido da latice que tão saudavelmente o define, conseguiu achar fortuna no continente selvagem.
Uma alma benévola, encontrada no mais puro dos acasos, deu-lhe uma oportunidade e, ao fim de poucas semanas, começou a tecer-lhe os primeiros elogios. O P descobriu um nicho de sucesso que parecia escondido há muito. Aqui deste lado do mar, o pobre Portugal perdeu (mais) um extraordinário profissional. O capital genial deste rectângulo de terra e gente vai-se esvaindo a pouco e pouco.
Os próximos meses afiguram-se risonhos para este bravo e corajoso miúdo de um arrabalde lisboeta. Abraçado o projecto, é uma convicção pessoal minha a de que o P será grande na sua área profissional. Acredito profundamente que muitos de nós, leitores, vamos ouvir falar muito dele e ler-lhe muitas palavrinhas carregadas de sabor e talento. Por agora, há (muita) labuta pela frente – e o P tem-na agarrado com unhas e dentes, do que tenho ouvido dizer. E vós, que indagais pelo regresso do P a este nosso País? Temo bem que não estará para breve.
É uma pena que os agrilhoados pela falta de trabalho precisem de fugir para se libertar. E nem sempre a alegria está do lado de lá da fronteira. Mas quem não a busca não a alcança, certamente.