Spielberg e Lucas prevêem a implosão de Hollywood — e do paradigma que ajudaram a criar
Steven Spielberg revela que "Lincoln" esteve em risco de não chegar às salas e de estrear na HBO
Steven Spielberg e George Lucas não são estranhos ao acto de olhar para o futuro – nem à capacidade de mudar o mercado e a indústria do cinema. Será que quando ambos prevêem que os estúdios de Hollywood vão “implodir” e que o vídeo on demand será o futuro, o sector os ouve?
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Steven Spielberg e George Lucas não são estranhos ao acto de olhar para o futuro – nem à capacidade de mudar o mercado e a indústria do cinema. Será que quando ambos prevêem que os estúdios de Hollywood vão “implodir” e que o vídeo on demand será o futuro, o sector os ouve?
Afinal, são os pais do blockbuster moderno, dos filmes de Verão que arrastam multidões, de marcos temporais chamados "Tubarão" e "Guerra das Estrelas" que, na década de 1970, alteraram a forma como o sistema cinematográfico mundial funcionava. Mas em 2012, Steven Spielberg viu-se em apuros para conseguir pôr "Lincoln" nas salas e esteve quase a estrear o seu filme nomeado para 12 Óscares no canal de TV por subscrição HBO.
Neste futuro iminente, “haverá grandes filmes num grande ecrã, e isso custará muito dinheiro e tudo o resto estará num pequeno ecrã”, disse Lucas quarta-feira em Los Angeles, numa conferência da Escola de Artes Cinematográficas da Universidade da Califórnia do Sul. “Já é quase assim. "Lincoln" (de Spielberg, nomeado para Óscar de Melhor Filme e Melhor Realizador) e "Red Tails" (2012, com Lucas como produtor executivo) mal chegaram às salas. Estamos a falar de Steven Spielberg e George Lucas não conseguirem ter os seus filmes nos cinemas.”
"Lincoln" foi quase um telefilme
Spielberg não hesitou em falar em causa própria e exemplificou que no ano passado “foi por um triz” que "Lincoln" não se transformou num telefilme, estreado na HBO, e que só o facto de ele ser co-proprietário de um estúdio — a Dreamworks — é que fez o filme chegar às salas.
“Acho que eventualmente os "Lincolns" vão desaparecer e vão estar na televisão.” No início do ano,Steven Soderbergh anunciou que iria abandonar o cinema porque "Behind the Candelabra", o "biopic" sobre Liberace que esteve em Cannes há um mês, não conseguiu chegar às salas norte-americanas, tendo sido exibido exactamente na HBO.
O cinema, surpreendido pela televisão na década de 1950, atacado pelo vídeo nos anos 1980 e minado pela pirataria desde a década seguinte, vai continuar a mudar perante a mudança dos hábitos e a evolução tecnológica, rumo a preços de bilhetes mais altos e um crescimento galopante do vídeo on demand. A visão de Spielberg e Lucas centra-se num espectador individual com múltiplos ecrãs cada vez mais no centro da indústria, com os grandes estúdios e o seu poder financeiro cada vez mais encolhidos perante o recolhimento do cinema para situações caseiras. A sala de cinema como um nicho, no fundo, como descreve a "Variety".
“Vai haver uma implosão em que três ou quatro, ou talvez mesmo meia dúzia destes filmes de mega-orçamentos se espalhem ao comprido e isso vai mudar o paradigma outra vez”, acredita Spielberg, falando da insistência dos grandes estúdios em apostar tudo num único título que custe centenas de milhões. De fora ficam filmes mais pessoais de jovens realizadores que, para Spielberg, são “demasiado à margem” para Hollywood – que, acredita o realizador de "ET", não os sabe produzir. Lucas sente que o marketing para as massas é demasiado pesado e oneroso e que, no fim de contas, os públicos de nicho estão a ser ignorados, escreve a "Hollywood Reporter".
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