Há lugar para o amor nos dias de hoje?

Quando nos deparamos com a ideia de emigrar, mudar abruptamente o rumo profissional, ou mesmo mudar de ares, gentes e locais, surge sempre a afirmação mais que presente e pertinente: "E as pessoas de que gosto? Onde ficam?"

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IntentionalVision/Flickr

Nos dias que correm, as pessoas estão em constante afogo para conseguir sobreviver um dia mais, um segundo mais que possa valer o futuro. A formação académica, outrora uma fonte de garantia de ingresso no mercado de trabalho “qualificado”, hoje não passa para muitos dum "status quo", que tem um impacto igualmente superior na sensação de empoderamento, mas que muitas das vezes não passa disso.

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Nos dias que correm, as pessoas estão em constante afogo para conseguir sobreviver um dia mais, um segundo mais que possa valer o futuro. A formação académica, outrora uma fonte de garantia de ingresso no mercado de trabalho “qualificado”, hoje não passa para muitos dum "status quo", que tem um impacto igualmente superior na sensação de empoderamento, mas que muitas das vezes não passa disso.

O emprego “não qualificado”, uma suposta alternativa ao anterior, conhece cada vez mais a alienação e a falta de acesso. As carreiras profissionais, que seriam a priori de constante e amena construção, conhecem mais do que nunca o emergente conceito dos voos de borboleta, em que as trajectórias balísticas deixam de existir para dar lugar a uma carreira de interrupções e alterações (des)continuadas. As relações longínquas aproximam-se para coroa de glória das novas tecnologias, enquanto que as relações fisicamente próximas se afastam para dar lugar ao virtual.


Imensas são as questões que hoje em dia se deparam com uma constante escolha, a opção “esquerda ou direita” desdobra-se em tantos sentidos quantos segundos da vida. As possibilidades de novas experiências e a velocidade da mutação dos nossos planos de vida, mesmo que a um prazo consideravelmente curto, aumentam em cada momento. Ousaria até, que é como se estivéssemos condenados ao abarque dos populares padrões da adolescência, em que tudo é uma verdade absoluta naquele momento, nada que uns bons dias, ou até horas não alterem. Não porque assim o queiramos na íntegra, mas porque em grande parte toda a envolvência sócio-político-económico-cultural nos obriga a tal.


Quando nos deparamos com a ideia de emigrar, mudar abruptamente o rumo profissional (seja pela via do regresso à formação, ou pelo empreendedorismo na área já explorada), ou mesmo mudar de ares, gentes e locais, surge sempre a afirmação mais que presente e pertinente: "E as pessoas de que gosto? Onde ficam?"


Neste sentido, as camadas mais jovens já começam a ser moldadas e formatadas à hiper–fragmentação que vivemos, os pais ou figuras de vinculação, já dizem desde cedo aos filhos que o essencial é estudar, é dar o tudo por tudo para ser o melhor e adiar planos pessoais externos a estes, mesmo que isso possa trazer descontinuidades em outros aspectos igualmente importantes, como é o caso das afectividades. Crê-se, desde tenra idade, que o céu é o único limite e que tudo pode ser alcançável, desde que haja esforço desmedido e um espírito latino-católico de sofrimento e trabalho como via de salvação... E eis que chega o dia em que os jovens se deparam com a realidade dura e crua e param para reflectir: fiz o investimento certo e adequado à minha vida? O céu era efectivamente único limite? Ou apenas ao alcance de alguns?


Talvez o esforço tenha de ser distribuído pelas várias forças-pilar que impulsionam a vida. Como diz o poeta épico Vergílio, "amor vincit omnia". O que acaba por ser uma boa verdade, já que o amor constitui um projecto que não é (totalmente) efémero.