Farid, o refugiado afegão que é campeão de boxe em Portugal
Perdeu-se da família na guerra do Afeganistão, esteve num campo de refugiados na Turquia e foi acolhido em Portugal. Aqui apaixonou-se pelo boxe olímpico e tornou-se campeão
Farid perdeu-se da família na guerra do Afeganistão e chegou a Portugal depois de ter estado num campo de refugiados na Turquia. Está no Centro de Acolhimento de Crianças Refugiadas (CACR) e faz do boxe a sua actividade de eleição. Tem 16 anos e chegou ao CACR em Janeiro, após uma longa viagem, que incluiu passar pelo Paquistão e pelo Irão, e depois de se ter separado da família por causa da guerra do Afeganistão, que eclodiu em 2001.
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Farid perdeu-se da família na guerra do Afeganistão e chegou a Portugal depois de ter estado num campo de refugiados na Turquia. Está no Centro de Acolhimento de Crianças Refugiadas (CACR) e faz do boxe a sua actividade de eleição. Tem 16 anos e chegou ao CACR em Janeiro, após uma longa viagem, que incluiu passar pelo Paquistão e pelo Irão, e depois de se ter separado da família por causa da guerra do Afeganistão, que eclodiu em 2001.
Por causa da guerra perdeu-se dos pais e do irmão e, ainda no Afeganistão, foi acolhido por outra família, que o fez chegar a um campo de refugiados das Nações Unidas na Turquia, em 2006, de onde foi enviado para Portugal. "Todos os dias havia bombas" “Era muito difícil viver no Afeganistão. Não podia ir à escola ou praticar desporto.
Todos os dias havia bombas. Era muito difícil ir até à escola ou à mesquita”, contou Farid. Agora é um dos 14 menores não acompanhados que estão no CACR, em Lisboa, crianças e jovens que chegam sozinhos a Portugal, sem família, e pedem asilo. “Normalmente perderam os seus familiares mais próximos, vêm à procura de um país que lhes ofereça protecção internacional e até atingirem os 18 anos o tribunal decreta a tutela do menor ao CPR [Conselho Português para os Refugiados]", explica Teresa Tito Morais, a presidente do CPR.
Farid vai à escola e sonha ser engenheiro, mas admite que ainda tem muitas dificuldades em falar português: “os portugueses falam muito depressa”, explica. Entretanto dedica-se à sua maior paixão: o boxe. “Eu praticava taekwondo e kung-fu, mas não era bom. Em Portugal comecei no boxe e o meu professor diz que eu sou bom para o boxe porque as minhas mãos são rápidas”, diz. O sonho passa por chegar aos Jogos Olímpicos e ao campeonato do mundo, algo que o treinador Orlando Madaleno ajuda a alcançar na certeza de que está perante um potencial campeão nacional.
“Ele tem todas as condições para ser um grande boxeur. Vai-se fazer ainda mais, só tem 16 anos. É um diamante ainda. Tem de ser bem lapidado. Tem todas as condições. Se deus quiser, vamos ter um campeão nacional”, garante o treinador. Para Orlando Madaleno, Farid ter todas as características de um bom pugilista: tem raça, ouve o treinador, joga muito bem com as mãos, tem muito alinhamento e muita correcção a jogar.
Características que já fizeram com que Farid ganhasse algumas medalhas, a última no campeonato nacional de boxe olímpico, a 25 e 26 de Maio, no Porto, e onde se sagrou campeão nacional de cadetes. Os jovens refugiados em Portugal A ‘história’ de Farid é apenas uma entre as muitas que vivem no CACR, muitas de jovens “bastantes revoltados” que quando chegam têm dificuldades em se adaptar às regras que lhes impõem, mas que “depois de um certo tempo percebem a utilidade do acompanhamento e mudam muito rapidamente”, conta Teresa Tito Morais. Actualmente a maioria são raparigas e muitas delas vêm da Guiné-Conacri.
Porém também há jovens do Afeganistão, Paquistão, Eritreia e República Democrática do Congo. A média de idades anda entre os 16 e os 18 anos, mas há também uma menina com oito anos e um bebé com dois meses.
O orçamento para o funcionamento do CACR ronda os 138 mil euros por ano, verba que vem da Câmara Municipal de Lisboa, Ministério da Administração Interna e do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), depois do Ministério da Solidariedade e Segurança Social ter recusado um acordo de financiamento. Teresa Tito Morais adianta que o trabalho do CPR passa por acompanhar todas as crianças e jovens nas suas necessidades mais básicas, desde o apoio psicológico, à aprendizagem da língua portuguesa, o acesso à educação ou a actividades desportivas e lúdicas.