Primeiro-ministro italiano pede desculpa aos que têm de emigrar para ter emprego

Enrico Letta publicou carta num jornal, assumindo culpa dos políticos. Mas diz que todos têm de se envolver.

Foto
Enrico Letta empenhou-se em colocar o desemprego jovem na agenda da próxima cimeira europeia Alessandro Bianchi/REUTERS

A carta divulgada no diário La Stampa deste domingo, dia em que se comemora a festa da República Italiana, é a resposta a um artigo publicado no sábado, em que se dá conta da emigração de mais um italiano – para Singapura, onde conseguiu um emprego que em Itália lhe fugia persistentemente.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A carta divulgada no diário La Stampa deste domingo, dia em que se comemora a festa da República Italiana, é a resposta a um artigo publicado no sábado, em que se dá conta da emigração de mais um italiano – para Singapura, onde conseguiu um emprego que em Itália lhe fugia persistentemente.

O que não admira, porque segundo números do último boletim da Confederação Italiana dos Sindidatos dos Trabalhadores (CISL), citados neste domingo pelo La Stampa, perderam-se 674 mil empregos nos últimos cinco anos, e outros 123 mil estão em risco em 2013.

Letta assume as culpas em nome dos políticos: “Disse-o no meu discurso [de tomada de posse] nas câmaras. Estamos todos envolvidos.” Quando uma geração inteira é roubada da esperança e da confiança – não de repente, mas pior ainda: lentamente dia após dia – não pode haver álibis, ninguém se pode dissociar pessoal ou politicamente”, escreveu.

“Nunca acreditei em salvadores da pátria. Acredito na comunidade. Só unidos poderemos reencontrar o sentimento alto e nobre do serviço ao país”, afirmou Letta, que dirige um governo de união nacional, que junta o Partido Democrático, de centro esquerda, com o Povo da Liberdade (centro-direita) de Silvio Berlusconi, com os centristas que apoiaram Mario Monti nas últimas legislativas.

Os jovens – que são as principais vítimas do desemprego em Itália – são a principal preocupação, sublinhou. Estima-se que pelo menos dois milhões de italianos com menos de 40 anos tenham seguido o rumo da imigração nos últimos anos, por não conseguirem encontrar trabalho, de todo, ou apenas empregos temporários e mal pagos no país. A estimativa foi feita pela associação Italents, que promove os talentos italianos no mundo.

O primeiro-ministro tornou a questão do desemprego jovem uma bandeira. Na viagem por várias capitais europeias que fez logo a seguir a tomar posse, defendeu a necessidade de aprovar, já na próxima cimeira de chefes de Estado e de Governo no fim de Junho, medidas a nível dos 27 países da UE para estimular o mercado de trabalho para os jovens. E recordou-o nesta carta.

“A dívida mais pesada que contraímos – reiterando os erros das gerações que nos precederam – é nos confrontos dos jovens. É um erro imperdoável”, afirmou. “No último mês fizemos todos os esforços para que na agenda da cimeira europeia do fim de Junho estivesse a luta contra o desemprego juvenil. Conseguimos.”