A agricultura na cidade

Na cidade e nos seus espaços vazios ou degradados começam a existir cada vez mais alternativas ao betão e à construção desenfreada e desnecessária

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Ricardo Silva

Na cidade e nos seus espaços vazios ou degradados começam a existir cada vez mais alternativas ao betão e à construção desenfreada e desnecessária.

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Na cidade e nos seus espaços vazios ou degradados começam a existir cada vez mais alternativas ao betão e à construção desenfreada e desnecessária.

Apesar da aparente utopia, a prática da agricultura urbana assume-se como uma destas alternativas e o fenómeno mundial do crescimento das hortas urbanas começa a dar os seus frutos (e legumes) também em Portugal.

As hortas, essas podem ser de todo o tipo e podemos cultivar tudo o quanto no campo existe. Chã, rúcula, salsa, manjericão e hortelã nas varandas. Alface, tomate cereja ou malaguetas no jardim de casa e mesmo couves, abóboras e feijão-verde nas hortas da comunidade.

São os tempos de crise que exaltam nas pessoas a procura por novos modelos de vida, e da necessidade nasce o reconhecimento. Para além da poupança, do rendimento extra e da auto-suficiência, sabemos que estamos a consumir produtos frescos e, mais importante, biológicos! Estas e outras vantagens inspiram as pessoas e municípios a aproveitar os terrenos camarários e requalificar os espaços urbanos degradados e sem uso, ou, em casos mais práticos, aproveitar o quintal e fazer uma horta familiar em casa.

Para quem quiser começar a praticar agricultura na cidade, são vários os projetos que nascem espontaneamente em Portugal, resultado do crescente interesse pelas hortas urbanas e seguindo casos de sucesso a nível Mundial.

Por todo o país vemos nascer novas hortas comunitárias: Lisboa, Porto, Funchal, Figueira da Foz, Coimbra ou Ponte de Lima. São cada vez mais os municípios a aderir a este movimento. A Proserpina ou a Horta Popular da Calçada do Monte, em Lisboa. O Porto Verde ou a Horta à Porta no Porto. As Hortas Sociais do Ingote em Coimbra. O “Verdes Campos”, dando o mote à intervenção, na Figueira da Foz. As Hortas de Cascais ou as Hortas de Subsistência na Maia, são alguns dos exemplos. (ver Portal da Agricultura Urbana).

As hortas urbanas mobilizam pessoas e grupos de diferentes classes sociais e com perfis muito distintos, sendo procuradas pelas mais diversas razões. Ao rendimento complementar, uma das razões que já referi, juntam-se muitas outras. Contribuem para a segurança alimentar, pois sabemos a origem dos alimentos e não dependemos dos supermercados, servem como ocupação do tempo para as mais várias idades, promovem a qualidade de vida e são muitas vezes usadas como método de terapia alternativa. Propiciam uma forma de convívio e integração social, levando à criação de um sentido de identidade e para reforçar o sentimento de comunidade (cada vez mais inexistente nas cidades). As suas vantagens são inegáveis.

No entanto, o impulso que o homem sente em relação a agricultura urbana não pode ser apenas explicado pelo desejo de obter produtos frescos, para além dos que são oferecidos pelas prateleiras dos supermercados. Ele tem raízes mais profundas, é um desejo natural de escapar do ambiente urbano e retornar a uma mistura de trabalho e lazer em contato direto com a Natureza.

Nesta altura de eleições autárquicas, em que se preparam decisões políticas locais, é fundamental que os políticos e candidatos compreendam a importância da implementação desta medida nos processos de urbanização das cidades e nos instrumentos de gestão e planeamento do território. Porque, para além da vantagem para as pessoas, as hortas urbanas são extremamente importantes para a própria cidade. Para além da contribuição na estrutura ecológica e de permitirem o aumento da biodiversidade, possibilitam a reciclagem de resíduos urbanos através da compostagem, o incremento da fertilidade do solo e, fundamentalmente, da sua capacidade de impermeabilização. Ao nível social, potencialmente são capazes de incutir valores importantes a funcionamento das cidades, como a vida em comunidade ou a cidadania.

Medidas que podem ser implementadas de maneira simples são a cedência temporária de terrenos expectantes para o cultivo de hortas urbanas, estratégia a ser elaborada em algumas cidades, a criação de hortas na escolas e universidades, a transformação e requalificação de espaços degradados nos meios urbanos ou a implementação de hortas em espaços comunitários.

Numa altura em que a ONU considera a promoção da agricultura urbana como o mais importante factor do planeamento urbano do século XXI, Portugal deveria ser capaz de conciliar o desenvolvimento das cidades com o seu potencial agrícola.