Almada "sempre disse não" à linha ferroviária para a Trafaria

Projecto está previsto desde a década de 1960 e foi incluído no PDM de Almada, em 1993, sob protesto da autarquia.

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Na apresentação que fez do projecto na Assembleia da República, na passada terça-feira, a Refer informou que o traçado está previsto no plano director municipal (PDM) de Almada. Maria Emília de Sousa recorda, no entanto, que esta inclusão foi feita contra a vontade do concelho. <_o3a_p>

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Na apresentação que fez do projecto na Assembleia da República, na passada terça-feira, a Refer informou que o traçado está previsto no plano director municipal (PDM) de Almada. Maria Emília de Sousa recorda, no entanto, que esta inclusão foi feita contra a vontade do concelho. <_o3a_p>

O PDM foi aprovado pela Assembleia Municipal em 1993. Na altura, teve de incluir o ramal ferroviário da Trafaria, pois o mesmo estava previsto numa legislação anterior, publicada em 1965, na altura em que estava a ser construída a Ponte 25 de Abril. <_o3a_p>

Mas ao mesmo em que aprovaram o PDM, os órgãos autárquicos adoptaram uma posição formal a exigir que o Governo revogasse aquela legislação e cancelasse os planos tanto para aquele ramal ferroviário, como para outro que ligaria à Costa da Caparica. O primeiro furaria, em túnel, a arriba fóssil e passaria sobre a Mata de São João, e o segundo atravessaria a Mata dos Medos. <_o3a_p>

“O concelho tem uma posição muito clara, muito firme e muito fundamentada”, diz a presidente da Câmara. “Não venha a Refer dizer agora que aquilo já estava previsto no PDM”.<_o3a_p>

Projecto abandonado
Quando o plano director estava em elaboração, ainda se discutia a intenção de se construir um porto de águas profundas entre a Trafaria e o Bugio, repondo artificialmente um cordão dunar que ligava o farol à terra no princípio do século XX. Era o polémico projecto do fecho da Golada, que acabou por ser abandonado por razões ambientais no princípio dos anos 1990.<_o3a_p>

Esqueceu-se o fecho da Golada, não se falou mais do ramal ferroviário da Trafaria. Mas já este ano, a Câmara de Almada foi informada de que haveria “orientações superiores” para manter o corredor ferroviário na revisão do PDM, que está em curso há quatro anos, segundo diz Maria Emília de Sousa. “No tempo do fascismo é que o Governo dava orientações às câmaras municipais”, afirma.<_o3a_p>

O traçado apresentado pela Refer (ver infografia) corresponde aos planos que já havia há 20 anos. Se for construída, a linha terá três viadutos e três túneis, de modo enfrentar os desníveis que existem no percurso entre a estação do Pragal e a Trafaria. Passará pelo Monte da Caparica, entrando depois no seu maior túnel, com 615 metros. Mais à frente, percorre um novo túnel que perfurará o arriba fóssil da Costa da Caparica, saindo directamente num longo viaduto, com 1360 metros. Esta via elevada segue sobre a Mata de São João numa curva ampla até chegar à Trafaria, de modo a vencer o desnível com uma inclinação adequada aos comboios de carga.<_o3a_p>

Problemas ambientais
Passar pela Mata dos Medos – considerada um dos pontos naturais mais ricos de Almada e classificada como Reserva Ecológica Nacional – é um dos problemas ambientais que se irão colocar ao projecto. Outro será o atravessamento da arriba fóssil, que foi uma das razões que afastou a opção de uma eventual ponte ao lado da 25 de Abril, quando se estudou a segunda travessia do Tejo em Lisboa, nos início dos anos 1990.<_o3a_p>

Associações ambientalistas já se manifestaram contra a intenção da Refer. “Os impactos serão certamente muito significativos. Deve-se pensar seriamente se a obra deve ser feita ou não”, afirma João Joanaz de Melo, presidente do GEOTA, citado pela agência Lusa. “A pouca informação que há sobre o projecto indica que é uma obra com utilidade duvidosa, com custo elevadíssimo e com impactos ambientais e sociais altamente lesivos”.<_o3a_p>

Para a associação Quercus, falar da linha ferroviária antes de se conhecerem os detalhes do terminal de contentores da Trafaria é um absurdo. “Está-se uma vez mais, à semelhança do que aconteceu em projectos anteriores, perante uma inversão total do processo de planeamento”, disse à Lusa a vice-presidente da Quercus, Carla Graça.<_o3a_p>