E na Lourinhã voltaram a encontrar-se os ovos de dinossauros carnívoros mais antigos do mundo
Na praia de Porto das Barcas, descobriram-se cerca de 500 fragmentos de cascas de ovos, com ossos de embriões e dentes com 150 milhões de anos.
Foi na praia de Porto das Barcas, na localidade de Atalaia, concelho da Lourinhã, que o holandês Aart Walen, voluntário do museu daquela vila, descobriu em 2005 os ovos com os embriões. O achado, segundo relata a equipa num artigo científico publicado hoje na revista Scientific Reports, é composto por cerca de 500 fragmentos de cascas de ovos, formando um conjunto com 65 centímetros de diâmetro, que continha ossos e dentes de embriões.
As cascas dos ovos e os embriões encontravam-se num estado de preservação “verdadeiramente excepcional”, segundo a equipa, que os estudou entre 2005 e 2009 utilizando diversas tecnologias de ponta.
Ricardo Araújo, um dos investigadores, sublinhou à Lusa a raridade dos achados. “Estes ovos têm 150 milhões de anos, por isso são de longe os mais antigos de dinossauros carnívoros”, explicou o paleontólogo português, que pertence ao Museu da Lourinhã e à Universidade Medodista do Sul, em Dallas, nos Estados Unidos.
Com 150 milhões de anos, existiam até agora os ovos com embriões de dinossauro encontrados na praia de Paimogo, também na Lourinhã, em 1993. A menos de dez quilómetros de distância do novo achado, esses ovos pertencem também a dinossauros carnívoros bípedes (terópodes): a equipa que os tem estudado considera que são do Lourinhanosaurus antunesi. Revelados ao mundo em 1997, os ovos de Paimogo estavam num ninho enorme, onde um grupo de fêmeas tinha posto mais de uma centena de ovos, e colocaram desde então a Lourinhã no mapa-múndi da paleontologia.
“Em conjunto com os ovos de Paimogo, [o novo achado] representa os embriões de dinossauros carnívoros mais antigos, sendo ambos do Jurássico Superior, com aproximadamente 150 milhões de anos”, acrescenta por sua vez ao PÚBLICO o paleontólogo Rui Castanhinha, do Instituto Gulbenkian de Ciências, em Oeiras, e do Museu da Lourinhã. “Nos últimos dez anos não se descobriu nada em Portugal em paleontologia de dinossauros tão importante como isto. Tem uma importância profunda na biologia, na reprodução, na embriologia de dinossauros. É a descoberta da década”, resume Rui Castanhinha. “Ovos com embriões é raríssimo.”
Ovos ainda antigos do que os da Lourinhã só os de dois dinossauros herbívoros, encontrados na África do Sul (do Massospondylus) e na China (Lufengosaurus), ambos com cerca de 190 milhões de anos.
“O registo fóssil tem apenas sete ou oito registos de ovos de dinossauro em todo o mundo e ainda são mais raros os casos de ovos com embriões”, referiu Ricardo Araújo, o primeiro autor do artigo, assinado ainda, além de Rui Castanhinha, por Rui Martins, Octávio Mateus, Luís Alves e pelo belga Christophe Hendricks, todos ligados ao Museu da Lourinhã, e pelos alemães Felix Beckman e Norbert Schell.
A equipa determinou que os achados pertencem a um torvossauro, um dinossauro carnívoro e bípede que tinha os dentes afiados e atingia dez metros de comprimento e duas toneladas. Pertencia a um grupo primitivo de terópodes, os megalossaurídeos, e é aqui que reside sobretudo a importância deste achado, ao preencher uma lacuna no conhecimento sobre as relações entre grupos distantes de dinossauros.
Em termos evolutivos, o torvossauro de Porto das Barcas encontra-se entre os dinossauros que puseram os ovos na África do Sul e na China, mais “primitivos”, e o de Paimogo, mais “evoluído” ou “derivado”. “Este novo achado vem preencher uma lacuna entre os dinossauros muito derivados [evoluídos] de Paimogo e os outros muito afastados da África do Sul e da China”, sublinha Rui Castanhinha. “Isto permite melhorar os conhecimentos sobre as origens dos dinossauros, em particular dos carnívoros, e de como eles chegaram à diversidade que vemos hoje – porque as aves são dinossauros.”
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Foi na praia de Porto das Barcas, na localidade de Atalaia, concelho da Lourinhã, que o holandês Aart Walen, voluntário do museu daquela vila, descobriu em 2005 os ovos com os embriões. O achado, segundo relata a equipa num artigo científico publicado hoje na revista Scientific Reports, é composto por cerca de 500 fragmentos de cascas de ovos, formando um conjunto com 65 centímetros de diâmetro, que continha ossos e dentes de embriões.
As cascas dos ovos e os embriões encontravam-se num estado de preservação “verdadeiramente excepcional”, segundo a equipa, que os estudou entre 2005 e 2009 utilizando diversas tecnologias de ponta.
Ricardo Araújo, um dos investigadores, sublinhou à Lusa a raridade dos achados. “Estes ovos têm 150 milhões de anos, por isso são de longe os mais antigos de dinossauros carnívoros”, explicou o paleontólogo português, que pertence ao Museu da Lourinhã e à Universidade Medodista do Sul, em Dallas, nos Estados Unidos.
Com 150 milhões de anos, existiam até agora os ovos com embriões de dinossauro encontrados na praia de Paimogo, também na Lourinhã, em 1993. A menos de dez quilómetros de distância do novo achado, esses ovos pertencem também a dinossauros carnívoros bípedes (terópodes): a equipa que os tem estudado considera que são do Lourinhanosaurus antunesi. Revelados ao mundo em 1997, os ovos de Paimogo estavam num ninho enorme, onde um grupo de fêmeas tinha posto mais de uma centena de ovos, e colocaram desde então a Lourinhã no mapa-múndi da paleontologia.
“Em conjunto com os ovos de Paimogo, [o novo achado] representa os embriões de dinossauros carnívoros mais antigos, sendo ambos do Jurássico Superior, com aproximadamente 150 milhões de anos”, acrescenta por sua vez ao PÚBLICO o paleontólogo Rui Castanhinha, do Instituto Gulbenkian de Ciências, em Oeiras, e do Museu da Lourinhã. “Nos últimos dez anos não se descobriu nada em Portugal em paleontologia de dinossauros tão importante como isto. Tem uma importância profunda na biologia, na reprodução, na embriologia de dinossauros. É a descoberta da década”, resume Rui Castanhinha. “Ovos com embriões é raríssimo.”
Ovos ainda antigos do que os da Lourinhã só os de dois dinossauros herbívoros, encontrados na África do Sul (do Massospondylus) e na China (Lufengosaurus), ambos com cerca de 190 milhões de anos.
“O registo fóssil tem apenas sete ou oito registos de ovos de dinossauro em todo o mundo e ainda são mais raros os casos de ovos com embriões”, referiu Ricardo Araújo, o primeiro autor do artigo, assinado ainda, além de Rui Castanhinha, por Rui Martins, Octávio Mateus, Luís Alves e pelo belga Christophe Hendricks, todos ligados ao Museu da Lourinhã, e pelos alemães Felix Beckman e Norbert Schell.
A equipa determinou que os achados pertencem a um torvossauro, um dinossauro carnívoro e bípede que tinha os dentes afiados e atingia dez metros de comprimento e duas toneladas. Pertencia a um grupo primitivo de terópodes, os megalossaurídeos, e é aqui que reside sobretudo a importância deste achado, ao preencher uma lacuna no conhecimento sobre as relações entre grupos distantes de dinossauros.
Em termos evolutivos, o torvossauro de Porto das Barcas encontra-se entre os dinossauros que puseram os ovos na África do Sul e na China, mais “primitivos”, e o de Paimogo, mais “evoluído” ou “derivado”. “Este novo achado vem preencher uma lacuna entre os dinossauros muito derivados [evoluídos] de Paimogo e os outros muito afastados da África do Sul e da China”, sublinha Rui Castanhinha. “Isto permite melhorar os conhecimentos sobre as origens dos dinossauros, em particular dos carnívoros, e de como eles chegaram à diversidade que vemos hoje – porque as aves são dinossauros.”