Líder islamista identifica suspeito do ataque de Woolwich como discípulo
Fundador do grupo extremista Al-Muhajiroun apelava à decapitação de ocidentais nos seus sermões.
Omar Bakri Muhammed, o fundador do grupo Al-Muhajiroun, está refugiado no Líbano desde 2005. Ao ver o vídeo do ataque brutal ao fuzileiro Lee Rigby, numa rua do sul de Londres, reconheceu de imediato Michael Adebolajo, que terá ouvido os apelos à decapitação dos inimigos do islão que eram frequentes nos seus sermões.
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Omar Bakri Muhammed, o fundador do grupo Al-Muhajiroun, está refugiado no Líbano desde 2005. Ao ver o vídeo do ataque brutal ao fuzileiro Lee Rigby, numa rua do sul de Londres, reconheceu de imediato Michael Adebolajo, que terá ouvido os apelos à decapitação dos inimigos do islão que eram frequentes nos seus sermões.
“Quando se cruzarem com os ocidentais, cortem-lhes o pescoço”, sugeria Omar Bakri Mohammed aos seus seguidores, dizendo-lhes que essa era a obrigação dos jihadistas que lutam em nome da Alá.
Numa entrevista exclusiva por telefone com o diário inglês The Independent, Omar Bakri Muhammed confirmou que foi no seio do grupo Al-Muhajiroun que começou a educação islâmica de Michael Adebolajo, o homem de 28 anos que foi filmado por dezenas de testemunhas a justificar a morte do soldado Lee Rigby, brutalmente assassinado numa rua do sul de Londres.
“Vi a gravação e percebi logo que se tratava de um acto de grande coragem. O que ele fez respeita totalmente o que nos ensina o islão. Não foi uma violência contra civis, foi uma operação contra um militar. No Médio Oriente, [Michael Adebolajo] é um herói pelo que fez”, declarou o islamista. O jornal avisou os seus leitores que as palavras do entrevistado eram "ultrajantes".
“Conheci-o como Michael quando ele começou a aparecer nas nossas reuniões, depois converteu-se e passou a dar pelo nome de Abdullah. Agora vejo que se chamava Mujahid”, apontou Omar Bakri Muhammed.
“Ele era um rapaz curioso e que fazia muitas perguntas sobre a religião. Quando começou a frequentar as nossas reuniões, havia muita raiva por causa da invasão do Iraque e da guerra contra o terror. Não sei se o influenciei ou não, mas alguma coisa aconteceu porque ele era um rapaz pacato”, observou.
Gravações antigas das “palestras” londrinas de Omar Bakri Mohammed, que é natural da Síria, parecem uma descrição passo a passo dos movimentos de Michael Adebolajo na quarta-feira. “No massacre do inimigo, lembrem-se de atingir o pescoço. Usem a espada para decapitar a cabeça do inimigo”, instruiu, aconselhando a “deixar o sangue correr por todo o lado”.
O Governo britânico classificou as actividades do grupo Al-Muhajiroun como extremistas e desmantelou a organização ao abrigo da legislação antiterrorista. Omar Bakri Muhammed abandonou Londres em 2005 e está impedido de voltar a entrar em território britânico.
Na entrevista ao The Independent, o líder islamista não faz qualquer referência ao segundo suspeito do ataque de Woolwich, Michael Adebowale, de 22 anos.
Os dois atacantes, que foram alvejados a tiro pela polícia no local do crime, permanecem hospitalizados sob detenção, em estado considerado estável. Um terceiro indivíduo está sob custódia policial por suspeita de envolvimento na conspiração para a morte do militar. Duas mulheres, detidas na quinta-feira no âmbito da investigação, foram interrogadas e libertadas sem acusação.
Tanto Adebolajo como Adebowale estavam referenciados pelos serviços de informação interna pela sua ligação a grupos radicais islamistas, nomeadamente ao Al-Muhajiroun. Muito provavelmente os seus nomes constavam da lista de indivíduos que “potencialmente” podem representar um risco para a segurança nacional – e que terá cerca de 3000 entradas
“Os serviços não podem vigiar individualmente todos os nomes desta lista, isso seria não só impossível como indesejável”, notou uma fonte do Governo citada pelo The Guardian sob anonimato.
Uma vez que os recursos são limitados, agências como o MI5 ou as unidades especiais de contraterrorismo da polícia metropolitana estabelecem prioridades – “Isso não é equivalente a desvalorizar uma potencial ameaça”, observou a mesma fonte.
A avaliação envolve especialistas em ciências do comportamento, que estudam a informação disponível e os perfis dos sujeitos para estabelecer uma separação entre os “simpatizantes da causa” e aqueles que já cruzaram a linha da jihad e estão preparados para atacar.
Poderá ter sido no âmbito desse trabalho que um dos dois suspeitos foi impedido de viajar para a Somália, onde alegadamente pretendia juntar-se ao grupo militante al-Shabaab.