Um campeonato que deixa saudades
Deixando de lado as polémicas exageradas (que muitas vezes servem para esconder os erros), as más arbitragens (que também as houve), a falta de desportivismo (dos que não sabem perder e dos que não sabem ganhar) e a praga dos salários em atraso (que mina a concorrência leal) é difícil imaginar que o futebol português possa desejar melhor campeonato do que este dentro do campo.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Deixando de lado as polémicas exageradas (que muitas vezes servem para esconder os erros), as más arbitragens (que também as houve), a falta de desportivismo (dos que não sabem perder e dos que não sabem ganhar) e a praga dos salários em atraso (que mina a concorrência leal) é difícil imaginar que o futebol português possa desejar melhor campeonato do que este dentro do campo.
Esta não foi a primeira vez que a Liga só foi decidida na última jornada. Mas há uma diferença importante em relação a algumas das ocasiões anteriores. É que agora a competitividade foi nivelada por cima. FC Porto (que é campeão sem qualquer derrota) e Benfica passaram boa parte da época empatados na liderança e a maior distância entre primeiro e segundo não ultrapassou os quatro pontos.
Também é justo assinalar que ambos evoluíram em relação à época passada: os “dragões”, especialmente na primeira metade da época, jogaram bem melhor do que na temporada passada e o Benfica de Jesus também melhorou, embora no final lhe tenha faltado humildade e experiência para lidar com a euforia de estar na iminência de ganhar três provas.
E se é certo que há uma bipolarização FC Porto-Benfica e uma maior distância (até nos orçamentos) face à concorrência, não se pode dizer que as outras equipas são más. O Paços de Ferreira de Paulo Fonseca fez uma época brilhante, o Estoril de Marco Silva também, o Braga (apesar da desilusão de não ir à Champions) manteve-se na rota europeia. O Vitória de Guimarães, com equipa jovem e um trabalho notável de Rui Vitória, é finalista da Taça e o Rio Ave de Nuno Espírito Santo foi outra das revelações da temporada. Só o Sporting saiu deste padrão. Apesar de ter jogadores talentosos, o clube de Alvalade afundou-se na sua instabilidade e fez uma época para esquecer, com um sétimo lugar, a pior classificação da sua história.
Claro que era óptimo ter mais equipas a lutar pelo título, o que fundamentalmente depende do renascimento do Sporting e da capacidade do Sp. Braga para subir mais uns patamares. Mas não é realisticamente provável que surjam novos protagonistas. Em 79 anos de história, apenas cinco equipas foram campeãs em Portugal (os três “grandes" – que são de facto maiores do que os outros em orçamento, títulos e história –, Belenenses e Boavista). Um padrão que só tem paralelo na Turquia, onde também só cinco clubes conquistaram o título. Olhando para os outros principais campeonatos europeus, há uma maior distribuição dos títulos por clubes: Inglaterra (23 clubes campeões), Espanha (9), Itália (16), Alemanha (29), França (29), Holanda (29), Bélgica (15), Grécia (9) e Escócia (11).
Outro sinal positivo deste campeonato foi a capacidade de regeneração do campeonato português. Apesar de ter perdido outra vez algumas figuras importantes (Hulk, Witsel ou Javi García), surgiram ou afirmaram-se novos talentos. Salvio, Matic, Mangala ou Jackson Martínez são apenas alguns exemplos de jogadores de enorme qualidade e que, mais cedo ou mais tarde, hão-de ir para outras paragens. E há jovens, como André Almeida, André Gomes, André Martins, Tiago Illori, Bruma ou Kelvin, que prometem para o futuro.