D. Manuel Clemente quer governantes mais “solidários” e pedagógicos”

Bispo diz que há um “desfasamento entre a capacidade de resistir da população e as propostas apresentadas pelos governantes”.

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Fernando Veludo/Nfactos

No final da eucaristia, D. Manuel Clemente falou aos jornalistas. Um dia depois de ter sido confirmado oficialmente que irá suceder a D. José Policarpo, no Patriarcado de Lisboa, o bispo diz sentir-se “sereno”. “Sinto-me sereno. Com o tempo vamos ganhando calma”, respondeu quando lhe foi perguntado como se sentia após o anúncio.

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No final da eucaristia, D. Manuel Clemente falou aos jornalistas. Um dia depois de ter sido confirmado oficialmente que irá suceder a D. José Policarpo, no Patriarcado de Lisboa, o bispo diz sentir-se “sereno”. “Sinto-me sereno. Com o tempo vamos ganhando calma”, respondeu quando lhe foi perguntado como se sentia após o anúncio.

Na diocese do Porto desde 2007, D. Manuel Clemente admite que é com “muita pena” que deixa a região. “Tenho muita pena de abandonar a diocese do Porto, composta por gente muito participativa e muito directa”.

Dos seis anos passados enquanto bispo do Porto diz que leva consigo “histórias de resistência” de uma zona que continua a ser muito afectada pela crise, nomeadamente pelo desemprego. “É notável o esforço de alguns empresários para não fecharem as portas. Têm consciência de que se fechassem não estavam a pôr em causa só as suas famílias, mas muitas outras”, conta, sublinhando que encontrou pessoas que lhe mostraram “como resistir criativamente à crise”.

D. Manuel Clemente considera que existe “uma disponibilidade grande por parte de muita gente que não é suficientemente respondida pelos decisores nacionais e internacionais”. Aos governantes pede, assim, que assumam um papel mais “solidário” e “pedagógico”. Para o bispo do Porto há um “desfasamento entre a capacidade de resistir da população e as propostas apresentadas pelos governantes”.

Questionado se será uma voz incómoda para o poder quando a partir do dia 7 de Julho assumir a direcção do Patriarcado de Lisboa, o prelado garante que não deixará de alertar para os problemas dos portugueses. A proximidade com o poder vai fazer com que a sua voz seja mais ouvida? “Não sei, isso é uma profecia, mas não deixarei de fazer alertas”, respondeu.

Sobre um dos assuntos que mais tem suscitado críticas à Igreja Católica, os abusos sexuais de sacerdotes sobre menores, D. Manuel Clemente mostrou-se cauteloso. O bispo recusou pronunciar-se sobre casos em concreto. “São casos que se aparecerem têm que ser verificados e analisados quer no seio da Igreja, quer na ordem civil”, argumentou.

O prelado defende que, até por respeito com as vítimas, se trata de um assunto no qual a “intervenção da Igreja tem que ser mediaticamente distante” e que se deve “acompanhar caso a caso”. D. Manuel Clemente sublinha que esta é uma realidade humana que envolve pessoas, as vítimas, mas também os agressores, que muitas vezes começaram como agredidos. “São casos sensíveis que, por vezes, levam um vida inteira a resolver”.