Marques Mendes responsabiliza banqueiros pela situação do país

Ex-líder do PSD diz que “a generalidade dos políticos”, em Portugal, têm medo de falar aos fortes e que os banqueiros são dos principais responsáveis pela crise em Portugal.

Foto
Marques Mendes falou aos jornalistas no Funchal Pedro Cunha

“Há muita gente que é responsável” pela situação a que chegou Portugal e “os banqueiros estão na primeira linha desta responsabilidade”, sustentou o ex-líder do PSD e actual conselheiro de Estado, que falava, na noite de sexta-feira, em Coimbra, numa conferência sobre o futuro de Portugal e da Europa.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

“Há muita gente que é responsável” pela situação a que chegou Portugal e “os banqueiros estão na primeira linha desta responsabilidade”, sustentou o ex-líder do PSD e actual conselheiro de Estado, que falava, na noite de sexta-feira, em Coimbra, numa conferência sobre o futuro de Portugal e da Europa.

“Eu não estou a querer mudar de banqueiros, porque isso é uma coisa difícil de fazer”, mas “quero que a situação mude”, salientou Marques Mendes defendendo que “cada um tem a sua função” e que “a função do banqueiro é gerir bem o seu banco, não é gerir bem o país, porque ele não está mandatado para isso”.

Quanto aos políticos, “já agora, devem dar-se ao respeito, porque a legitimidade do voto não deve ser nunca, nunca, condicionada pela legitimidade dos poderes de facto”, advertiu o antigo ministro. “Os banqueiros têm um estatuto de impunidade que é uma coisa extraordinária”, sustentou Marques Mendes, considerando que “a generalidade dos políticos”, em Portugal, têm medo de falar aos fortes - é sempre mais fácil falar aos fracos”.

Mas como o antigo líder dos sociais-democratas defende “exactamente o oposto”, entende que “estas coisas devem ser ditas, para ver se as mentalidades mudam um bocadinho” e se desenvolve “uma cultura que não seja de impunidade”, sublinhou. Portugal tem de deixar de ter uma economia “centrada no mercado interno” e tem de a “voltar para o exterior”, mas, advertiu Marques Mendes, esta orientação tem de fazer parte do “discurso político, porque o exemplo deve vir de cima, mas convém que venha um bom exemplo”, pois, “ao nível da banca, o contributo que ela deu foi péssimo, foi negativo”.

“A generalidade dos nossos banqueiros” contribuiu para que Portugal “tivesse demorado tanto tempo” a “acordar” e a “chegar ao caminho” da exportação e da internacionalização da sua economia. Aos banqueiros que “estão aí na praça já só falta, mais dia, menos dia, começarem a dar uns palpites” e a fazerem, “como adoram muito fazer, colagens ao poder”.

Só se “culpam os políticos” pela situação do país, mas “os banqueiros estimularam tudo e mais alguma coisa”, afirmou Marques Mendes, responsabilizando também os empresários e os gestores. “Não são só os trabalhadores que precisam de acções de formação”, advertiu, embora existam “empresas e empresários” com “muito mérito, nestes tempos difíceis”, salientou.

A conferência estava integrada num ciclo de quatro debates sobre a situação económica e social do país e da Europa, organizado pelo economista Miguel Fonseca e Clube MBA da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra